A sala estava escura, mas não o suficiente... Deborah,
levantou-se e baixou os estores até extinguir o último pedaço de luz que
desafiava a escuridão. Voltou, às apalpadelas, para o sofá e fechou os olhos.
Idiota, pensou para si. No escuro, manter os olhos
fechados ou abertos não faria a mínima diferença. Contudo, Optou por fechar os
olhos, sentia-se melhor assim.
Pegou no comando e ligou a música. Deixou-se envolver
pela melodia e permitiu-se viajar. Deitada, inerte e em paz.
Por vezes, sentia necessidade de afastar-se do mundo e
mergulhar no seu inconsciente, na sua alma.
A música era o meio de transporte para o outro lado. A
música era das poucas coisas que lhe permitia desacelerar o pensamento e
desapegar-se das preocupações mundanas e rotineiras. Por momentos, estava em
paz consigo mesma. Entendeu as suas aflições, receios e sonhos. Afastou o ruído
de fundo e conseguiu olhar profundamente para dentro de si mesma. Afinal, não
se tinha perdido. Afinal, a Deborah ainda ali estava. A sua essência mantinha-se
a mesma. Deitada, inerte e em paz.
Assim permaneceu até o CD acabar. Respirou fundo, abriu
os olhos e levantou-se lentamente como que ganhando noção do seu estado físico.
Abriu os estores e
acendeu a luz. Dirigiu-se para a cozinha e começou a preparar a lancheira do
filhote. A rotina diária, afinal de contas, ainda estava a
começar. Texto: Adelaide Miranda, 29 Setembro 2017
Imagem: Trigger Image
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