terça-feira, 24 de abril de 2018

O que ficou, ficou!

Secou as lágrimas. De nada lhe adiantava chorar.
Que mau hábito tinha o ser humano de chorar sobre leite derramado.
Que coisa! Mesmo sabendo que não há como voltar atrás, e que o que está feito está feito, acabava por chorar sobre algo que já não podia deixar de ser. O que aconteceu, aconteceu!
Tonta!
Recriminou-se pela parvoíce. Lágrimas vãs. Um belo desperdício, isso é que era.
Secou as lágrima e ergueu a cabeça. O que aconteceu, aconteceu! O que ficou, ficou! O que passou, passou!
Iria erguer-se... O passado tinha esta tendência de a impedir de viver o presente, e temer o futuro. Que coisa!
Secou as lágrimas. Levantou-se, abriu as janelas e sorriu para o mundo.
Abraçou o presente e ansiou pelo futuro. A vida é mesmo assim: o que ficou, ficou, e por lá deve ficar!

Adelaide Miranda

domingo, 22 de abril de 2018

A Rosa Branca

Estava nervosa... Sentada à janela do Starbucks, Adelaide, olhava à volta na esperança que ele chegasse. A conversa tinha sido clara: se ele viesse significava que iriam colocar o passado para trás e re-inventar a relação. Se ele não viesse...
Desistiu de contar as pessoas que passavam
pela montra. Desistiu de tentar adivinhar nacionalidades. Desistiu de tentar adivinhar onde iam... Simplesmente, resignou-se a esperar.
A movimentação, na estação de Vitória, passou a ser uma imagem de fundo e quase a preto e branco. Eram sombras... Sombras de vidas a passar... Sombras do passar do tempo e ele sem chegar...
Não reparou quando a noite chegou, mas chegou. Eduardo, não deu sinais. A empregada do café, pediu-lhe educadamente que saisse. Teriam que fehar. Adelaide, levantou-se, saiu do café, parou em frente à loja e chorou. Ele não veio. Era o fim...
Sabia que as chances eram poucas, mas tinha esperanças... Eduardo! Adelaide, gritou de despero e levou as mãos ao coração tentando amparar a dor.
Eduardo, pediu ao patrão para sair mais cedo. Tinha Adelaide à espera. Não a queria massacrar mais. O passado era o passado e no passado deveria ficar. Ele também não tinha se comportado bem. Eram precisos dois para dançar o tango...
Saiu a correr e passou na florista para comprar uma rosa branca. Adelaide, saberia qual o significado da rosa.
Ao sair da florista, Eduardo, atrevessou a rua ao ver o autocarro que o levaria à estação de Vitória. Não viu o carro que vinha do outro lado... Sentiu o embate e foi atirado ao ar. Antes de cair ao chão, Eduardo gritou. Adelaide!!!! Fechou os olhos e cerrou nas mãos a rosa manchada de sangue...




quarta-feira, 18 de abril de 2018

Memórias do Passado

Estive indecisa por muito tempo.
Faltou-me coragem para sentar e decidir o que fazer.
Sempre soube que não seria fácil, afinal decidir sobre o nosso futuro não é uma decisão leve.
Sentei-me à mesa, apoiei os cotovelos e levei as mãos à cabeça.
Fechei os olhos e respirei fundo.
Vieram-me as imagens de tudo o que tinhamos vivido. Por mais incrível que pareça só me lembrei das coisas boas.
Foi tão bom o que vivemos.
Apercebi-me que estas memórias tinham mais de cinco anos. Não me lembrei das coisas más, mas também não me lembrei de memórias boas mais recentes.
Simplesmente não existiam. Os bons momentos eram parte do nosso passado, assim sendo qual o motivo de insistir com este presente?
Abri os olhos e levantei-me.
Voltei para a cama e observei-te a dormir, pávido e sereno.
Continuavas belo, misterioso... Contudo, diferente.
Olhei para ti presa às memórias do passado. Respirei fundo.
Abracei-te e dormi, pela última vez, abraçada ao passado.


terça-feira, 17 de abril de 2018

Faltam-me Palavras

Faltam-me palavras...
Tenho dificuldade em
Exprimir o que sinto.
Faltam-me palavras...
Gostaria de dizer-te
O que vai cá dentro.
Faltam-me palavras...
Estou presa neste ciclo
Repetitivo. Sem rumo.
Faltam-me palavras...
Olha-me nos olhos,
Lê o que tenho escrito
Na alma. 

terça-feira, 10 de abril de 2018

Preces de mãe

Sereno...
Observo-te a dormir,
Calmo e sereno.
Gostava de proteger-te
Para sempre.
Que a tua vida seja fácil, 
Meu amor.
Que as tuas provações
Sejam ultrapassadas.
Que estejas rodeado de amor
Mesmo quando eu já nao for.
Que sejas sempre assim,
Calmo e sereno.
Que abraces os teus desafios
Com todas as tuas forças.
Que nunca desistas de lutar
Pelos teus sonhos.
Estarei sempre contigo
Mesmo quando eu já não for.
Gostava de proteger-te
Para sempre...
Que o meu amor por ti,
Seja a tua força maior,
Mesmo quando eu já não for.
Observo-te a dormir,
Calmo e sereno.
Que sejas sempre assim,
Essa força da Natureza,
Essa alegria em estado físico,
Esse jovem guerreiro,
Para sempre...
Mesmo quando eu já não for.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Tempo para me amar

Tempo...
Pediste-me tempo...
Precisas de tempo...
Tempo para pensar,
Tempo para reavaliar,
Tempo para decidir,
Tempo...
Precisas de tempo,
Para saber se amas?
Precisas de tempo?
É preciso de tempo?
Tempo...
Pediste-me tempo...
Tempo para me amar...
Desculpa-me amor,
Mas tempo é algo que
Não tenho para te dar!


terça-feira, 3 de abril de 2018

Rir com a mão na barriga


Riu-se com a mão na barriga. Caiu no sofá e rebolou até ao chão. Não se aguentava de tanto rir. Faltava-lhe a respiração. Afinal, pode-se morrer a rir. Tentou controlar o riso, mas não conseguiu. Olhava para ele com a máscara preta na cara e não se aguentava de tanto rir.
Onde é que já tínhamos chegado? O mundo estava todo louco. Só lhe faltavam os rolos na cabeça. Riu-se… Riu-se e até se engasgou de tanto rir.
Renato, olhava para ela incrédulo. Qual era a piada? Estava apenas a cuidar da sua imagem. Era importante cuidar da imagem. Não via piada nenhuma. Não estava a achar piada nenhuma. Não estava achar piada nenhuma… Mas tinha que confessar que estava tentado a juntar-se à festa. O riso livre era contagiante. Tinha duas opções, chatear-se ou rir-se com ela. Correu até à casa de banho e trouxe a máscara com ele. Atirou-se a ela e espalhou a máscara por todo o lado. Eram borrões negros na testa, na ponta do nariz, nos lábios…
Enrolaram-se a rir, no tapete. Riram com a mão na barriga. Não se aguentavam de tanto rir…

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Respiro Fundo


Respiro fundo…

Ultimamente, parece ser a única coisa que faço: respirar fundo.
Inspiro… Prendo a respiração… Expiro… Conto até três para inspirar e até oito para expirar.
Respiro fundo…
Tento centrar-me… Encontrar o meu espaço. Pergunto-me onde estou, como aqui vim parar e onde pretendo chegar. Apalpo-me para me sentir viva. Volto a inspirar… Prendo a respiração… Expiro… Conto até três para inspirar…
Respiro fundo…
É incrível… Estou cansada de ser. Estou cansada de estar. Estou cansada de tudo. Onde estou? Como aqui vim parar? Onde pretendo chegar? Arghhhhhhh! Belisco-me! Estou viva! Caramba! Volto a inspirar… Prendo a respiração…
Respiro fundo…

Adelaide Miranda, 02-04-2018