quinta-feira, 30 de março de 2017

Desabar



Encontrei-o sentado no sofá da sala a chorar...
Senti uma dor tão aguda, como se tivesse acabado de ser esfaqueada. Agarrei-me ao peito e pressionei, ao mesmo tempo que me contorci, de forma a conter a dor.
Soube, ali, naquele momento, que ele não chorava por mim. Nunca o tinha visto a chorar...    Aproximei-me, a custo, e ajoelhei-me junto ao sofá. Olhei para ele e, de leve, poisei-lhe a mão no peito.
- Já não me amas pois não? - Perguntei após reunir toda a coragem que tinha.
- Não sei... Não sei...
- Estás a pensar noutra mulher, não estás?
- Sim... - Respondeu após um silêncio prolongado.
- Estiveste com ela?
- Não te posso mentir. Estive, sim.
- É amor que sentes por ela?
- Não sei. É diferente. Com ela sinto-me...
- Sentes-te o quê?
- Mais vivo. Contigo... Contigo tudo é igual. Robotizado. Mecânico...
- Entendo...
- Perdoa-me.
- Não sei se consigo.
Levantei-me a custo e caminhei de  cabeça erguida, com o pouco de dignidade que me restava.
Ouvi-o a chorar. Tive vontade de voltar atrás e pedir-lhe para retirar tudo o que tinha dito...
Não o fiz porque tinha noção de que a rotina diária tinha nos traído. Era óbvio que viviamos debaixo do mesmo tecto mas não partilhávamos a mesma vida. Eu já não me lembrava da sua música favorita. Não me lembrava da última vez que tinhamos rido juntos. Na realidade... Na realidade eu sentia-me presa. Por vezes, também sonhava em sentir-me viva.
Ouvi o telefone dele a tocar, ao fundo.
- Estou a pensar em ti. - Disse ele. - Acabei de falar com a Deborah. Falei-lhe de nós. Preciso estar contigo.
Respirei fundo. Abri a porta de casa e sai.

Foto retirada da internet.




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