sábado, 1 de outubro de 2016

Por um fio...

Encontrou-a caída no chão e correu até ela. Com o coração nas mãos, os segundos que demorou a percorrer a distância que os separava pareceram uma eternidade. Agachou-se e colocou o ouvido sobre o peito da mulher que ele amava. As mãos tremiam e o terror, o pavor, de não a encontrar com vida quase que o paralizavam. O barulho ensurdecedor do medo quase não o deixou ouvir o coração dela a bater... Para seu alívio, batia, de leve, mas batia. Enquanto a abraçava rezava para que tudo estivesse bem. 
- Acorda, amor, por favor. - Sussurrou-lhe ao ouvido. - Acorda, amor... Acorda.
Abraçou-a enquanto esperava a ambulância. Deitou-se, ali, com ela à espera que alguém os viesse salvar. Sim, também ele precisava de salvação. Se alguma coisa acontecesse com ela a sua vida deixava de fazer sentido. Qual a razão de existir se não para a fazer feliz? De que serviria ele a este mundo se não fosse para contribuir que ela brindasse a humanidade com o seu sorriso?
Os paramédicos chegaram e ele ficou parado a vê-los trabalhar, como que em câmara lenta, sem conseguir afastar-se dela.
Ouviu-os a falar com ele mas não tinha forças para raciocinar. De repente, não conseguia entender a língua que falavam. Viu-os a afastarem-se com a maca em direcção à porta e só aí recuperou o controlo do seu corpo. Correu, correu e colocou a mão sobre o ombro do paramédico que se encontrava já a fechar a porta da ambulância. Saltou lá para dentro e agarrou a mão da sua mulher, da sua vida... Apertou-a com força.
- Salvem-nos, por favor. - Suplicou ao paramédico. - Salvem-nos.
O paramédico assentiu e fechou a porta da ambulância. 
O barulho da sirene lembrou-lhe que estava numa corrida para salvar a própria vida. Sentiu a urgência e olhou para a sua mulher, a sua vida...
- Acorda, meu amor, acorda. - Beijou-lhe a mão e inalou, de olhos fechados, o seu cheiro. - Eu amo-te, meu amor... Acorda, por favor....

Adelaide Miranda, 1/10/2016

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