segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Encosta-te em mim...

Encosta-te a mim. Fecha os olhos e encosta a tua cabeça na minha. Fica assim, parado, encostado em mim. Deixa que os teus sonhos invadam os meus. Deixa que os teus desejos se fundam com os meus. Encosta-te a mim. Fecha os olhos e encosta a cabeça na minha. Fica assim, parado, encostado em mim. Deixa que eu absorva a essência de ti...


Adelaide Miranda, 5/12/2016

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Permite-te Sentir!

Permite-te sentir... Enterra a situação que te faz sofrer mas primeiro permite-te sentir. Chora e grita se for preciso. Chora por ti... Chora pelo que foi e pelo o que poderia ter sido... Grita a altos ventos e liberta-te da dor... Da agonia... Cai de joelhos e grita como um lobo uiva para a lua... E ergue-te livre das emoções... Ergue-te e leva contigo as lições que aprendeste... Enterra a situação que te fez sofrer e despede-te até sempre. Sorri e segue em frente... Permite-te sentir... Sempre!


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Adelaide Miranda, 28/11/2016


Foto retirada da net

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Histórias Levadas da Breca - Baby on a Plane


How funny things are!
It’s so funny! How funny things are!
Here I am sitting in the airplane and this baby is crying out loud. He is basically screaming and I… 
I just can’t take it anymore. I wish he could just shut up!
I keep thinking to myself, can’t his parents do something about it and make him stop?!
I laugh!
Hypocrite! I too am a mother! I too went through this embarrassing agony and not so long ago. And 
so, so many times. I shushed him… I soothed him… I sang to him… I rocked him… and yet my 
baby wouldn’t stop crying. And I… I felt the pain. I felt the agony. I felt so bad for everyone else, 
as I was aware of how annoying someone’s child cry can be. And now… here I am judging it 
myself!
Hypocrite!
Poor woman! Just let her be. I am sure no one is feeling more uncomfortable than she is right now. 
And the baby… the baby is probably just scared, and uncomfortable. His ears are probably hurting 
and he cannot express himself by any other way than crying. He sure wishes his mum could 
understand him and stop all this shushing, soothing, singing, and rocking… If she could just help 
him with whatever affliction he has!
It is annoying… I know! But sometimes things are just the way they are.
Hypocrite!
It’s so funny! How funny things are. 

Adelaide Miranda


Illustration by Marissa Peguinho

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Apelo ao Mundo: Amem Muito!

Há muita falta de amor...
Muita falta de amor pelo próximo.
Muita falta de amor próprio.
Os problemas que existem, na sociedade em que vivemos, são devidos à falta de amor.
Quando sentimos amor pelo próximo não existe lugar a ódio porque o seu tom de pele é diferente, porque a sua cultura é diferente, porque a sua religião é diferente...
Quando sentimos amor pelo próximo não existe lugar a racismo, perconceito, descriminação...
Quando sentimos amor pelo próximo...
Há muita falta de amor...
Muita falta de amor pelo próximo.
Muita falta de amor próprio.
Quando sentimos amor próprio não existe lugar a ódio pelo próximo porque estamos bem connosco, porque não invejamos o próximo porque não concorremos com o próximo mas connosco...
Quando sentimos amor próprio não existe lugar a racismo, perconceito, descriminação...
Quando sentimos amor próprio...
Quando sentimos amor...
Quando sentimos amor valorizamos quem somos, valorizamos a raça humana, valorizamos a natureza que nos acolhe, valorizamos o mundo em que vivemos.
Quando sentimos amor as guerras não fazem sentido, as invejas não fazem sentido, as diferenças não fazem sentido...
Quando sentimos amor...
Quando sentirmos amor...
quando aprendermos a sentir amor o mundo poderá ter uma salvação.
Amem-se... Amem o próximo...
Amem muito, por favor. Precisamos de amor.
A vida não é uma competição é uma partilha.
Amem muito e salvem o mundo. Respeitem a Vida!

Adelaide Miranda, 16/11/2016

Foto retirada do site: www.barbdahlgren.com

Engano

Calo-me...

Calo-me muitas vezes.

Várias são as palavras que ficam por dizer.

Fecho os olhos...

Fecho os olhos muitas vezes.

Várias são as coisas que eu finjo não ver.

Engano-me...

Engano-me tantas vezes.

Não é por calar-me ou por fechar olhos

que vai deixar de doer.


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Adelaide Miranda, 16/11/2016


Image by: Exasil - DeviantArt

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Dor de mãe... Amor de mãe...

Sinto uma dor que me rasga o peito... Sinto uma dor que me rasga o peito... Sinto uma dor que me rasga o peito! A dor de te amar tanto, meu filho. A dor de te amar tanto e saber que não te posso proteger deste mundo que me amedronta dia após dia. A dor da impotência de prever o futuro e proteger-te do que quer que te possa fazer mal. A dor da inabilidade de colocar-te numa redoma e proteger-te de todo o mal. Sinto uma dor que me rasga o peito... Uma dor maior do que a dor que senti ao trazer-te a este mundo. Uma dor que só uma mãe consegue sentir e não tem a capacidade de descrever. Uma dor que carrego comigo todos os segundos da minha vida desde que nasceste. Uma dor que não me permite dormir descansada porque sei que podes precisar de mim a qualquer momento. Uma dor... Uma dor constante que só tem um remédio: os teus braços à volta do meu pescoço, os teus beijos na minha face, o teu sorriso... Uma dor que me faz pedir a Deus todos os dias por ti. Peço que te proteja. Peço que te guie. Peço que te ilumine. Peço que me dê sabedoria para criar-te com valores. Peço que te ampare... Sinto uma dor que me rasga o peito... Uma dor tão grande que só existe porque tu existes. Uma dor tão grande que só existe porque existe uma força maior que carrego comigo desde que soube que existias dentro de mim: o meu amor incondicional por ti.



11/11/2016

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Entrevista Curto Circuito - CC All Stars:Guia Pratico da Carapinha

Olá, amizades!

Cá vos deixo mais um link. Mais uma entrevista.

Vamos falar de Carapinhas?

http://sicradical.sapo.pt/programas/curto-circuito/videos/2016-11-02-16-10-31-Guia-Pratico-Da-Carapinha



Adelaide Miranda, 09/11/2016 Entrevista a 31/10/2016

Entrevista Grande Tarde - Guia Prático da Carapinha com João Baião e Andreia Rodrigues

Olá, amizade!

Para quem não teve a oportunidade de ver a minha participação no Grande Tarde da Sic, aqui fica o link:

http://sic.sapo.pt/Programas/grande_tarde/videos/2016-11-03-Guia-Pratico-da-Carapinha




Adelaide Miranda, 09/11/2016, Entrevista Grande Tarde Sic a 03/11/2016

Entrevista RDP África - Estação dos Novos com Carlos Pedro

Olá, amizades!

Aqui têm a minha entrevista com o grande "Carlos Pedro" na RDP África.

Para quem não ouviu.

Obrigada, a todos. Por estas bençãos!


https://www.dropbox.com/s/w5vqqv11sokuv9c/Entrevista%20com%20a%20escritora%20Adelaide%20Miranda%2031-10-2016%20l.mp3?dl=0

 




Adelaide Miranda, 09/11/2016  - Entrevista de 31/10/2016

Entrevista - Alo Portugal - Sic Internacional com José Figueiras

Olá, anizades!

Aqui têm o link de uma grande entrevista no Alo Portugal!
Adelaide Miranda e WilsonP, a união de dois primos em busca dos seus sonhos.
Aqui vos deixo o link:

http://sic.sapo.pt/Programas/aloportugal/videos/2016-11-02-Alo-Portugal--02-de-Novembro



Adelaide Miranda, 09/11/2016 Entrevista 02-11 Alo Portugal

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O caminho do sonho perdido...



Iniciei uma busca... Estou em busca do meu sonho perdido. Um sonho que perdi há 20 anos. Não deixei de sonhar... Deixei foi de lado aquele sonho que significava um caminho mais complicado. Um sonho que significava um caminho contra a vontade dos meus pais, da minha família... Aceitei o caminho que me propuseram. Um caminho aparentemente mais fácil mas repleto de desafios, provações... Percorrendo esse caminho descobri que tinha a força, a vontade de vencer não obstante o obstáculo que me pusessem à frente. E, venci! Acho eu que venci. Cheguei ao fim desse caminho com orgulho das batalhas que travei, das que venci e das que perdi. Aprendi com as batalhas perdidas e celebrei com as batalhas vencidas. Olhei para trás com orgulho e saudosismo e um não sei o quê de tristeza. Ali, naquela meta senti que me faltava algo. Não sabia o quê... Aos poucos, fui abrindo a gaveta dos sonhos perdidos. Saboreiei, um a um, de olhos fechados. Coloquei-os nas mãos e senti a vida neles. Todos os dias abro essa gaveta, só um pouquinho mais. Os meus sonhos perdidos vão se libertando e dando motivos para que eu siga em frente. Corro atrás deles, e por vezes tropeço. Este caminho tem também obstáculos. Este caminho não é fácil. Mas... Este caminho foi o que eu escolhi. Sei, bem dentro de mim, que vou vencer algumas batalhas e perder outras. Sei que não vai ser fácil, mas sei que não vou desistir. Este caminho é o caminho que eu escolhi, há mais de 20 anos atrás e que não tive coragem de o perseguir. Vou continuar a minha caminhada... Passo a passo. Continuo com a força de vencer e não tenho medo de cair. Nunca tive. Se cair é porque necessito de parar e olhar em frente. É assim... Ás vezes o caminho parece longo ou que anda às voltas. Mas... É o meu caminho. Vou seguir em frente. Passo a passo... 


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Adelaide Miranda, 7/11/2016



domingo, 23 de outubro de 2016

Suplico-vos: Amem e deixem-se amar!

Arrepio-me com o mundo... Entristeço-me...

Caem-me lágrimas de sangue ao ver onde chegamos. Quero dizer, onde não chegamos.

Entristece-me saber que não existe amor ao próximo. Entristece-me saber que não existe apreço pela vida humana. Entristece-me saber que não... Existe um ambiente de desconfiança, medo... Fazemos uma boa acção e somos olhados de soslaio. Batemos a uma porta e abrem com duas pedras na mão ou fingem nem ouvir... Quero acreditar que a humanidade ainda tem salvação. Preciso de acreditar que o amor pode retirar esta névoa escura que nos envolve. Amem... Permitam-se amar. Olhem à vossa volta. Observem o mundo que vos rodeia. Mudem a vossa forma de pensar. Pensem mais nos outros. Tirem tempo para os outros. Suplico-vos. Imploro-vos. Amem e deixem-se amar.

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Adelaide Miranda, 23/10/2016


Foto retirada da internet


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Para Sempre

...

Preciso de silêncio... Que se calem as vozes à minha volta. Que se cale o mundo à minha volta. Que se silencie o barulho!

Preciso de paz... Que cesse o movimento à minha volta. Que se imobilize o mundo à minha volta. Que se interrompa o movimento!

Preciso de tempo... Que parem todos os relógios à minha volta. Que o mundo deixe de girar à minha volta. Que se interrompa a linha do tempo!

Preciso de... Silêncio... Paz... Tempo... Preciso que pare tudo neste preciso momento. Preciso de imortalizar este preciso momento... Que os teus lábios poisem sobre os meus para sempre. Para sempre!

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Adelaide Miranda, 19/10/2016

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Foto retirada da internet


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Por medo...

Tenho tanto por dizer... Fiquei com tanto por falar... Revejo as nossas conversas, as nossas discussões e não percebo o medo que sempre senti em confrontar-te com o que realmente pensava e sentia. Sempre tive medo, sabes? Sempre tive medo de dizer-te o que me ía na mente e no coração. Sempre tive medo de arreliar-te, de contrariar-te... Sempre tive medo, que se dissesse algo que não quisesses ouvir, que me deixasses e por isso ficou tanto por dizer. Ficou por dizer que não era correto, que não merecia que falasses comigo daquele jeito. Ficou por dizer que não era justo pensares apenas em ti na maioria das situações. Ficou tanto por dizer... Sempre tive medo que levasses de mim as migalhas de afecto que me davas, sabes? Desesperava ao pensar o que seria de mim se deixasses de me alimentar com os restos que te sobravam. Ficou tanto por dizer... Ficou tanto por amar... Durante todos este tempo esqueci de amar-me a mim mesma. Recolhi os pedaços que me destes e pouco a pouco envenenei-me com eles. Um veneno que dia a dia consumiu o pouco amor próprio que me restava...  Tenho tanto por dizer... Fiquei com tanto por falar contudo, agora, já não vale a pena. Não quero alimentar o teu veneno ao doar-te o meu tempo. Que as palavras que não foram ditas sejam levadas pelo vento! Que o amor próprio seja o meu sustento. 


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Adelaide Miranda, 17/10/2016


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Devora-me...


Devora-me agora, por favor. Não me pegues de mansinho. Devora-me. Degusta-me de uma só vez. Engole-me. Não me petisques. Come-me. Prova-me sem medo. Atreve-te. Saboreia-me. Não me cozinhes. Devora-me. Aprecia-me sem temperos. Almoça-me... Janta-me... Ceia-me... Liberta a tua gula em mim. Devora-me. Não me desperdices. Devora-me. Tão simples, assim.
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Adelaide Miranda, 12/10/2016

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Foto retirada da net

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Broken

 

I was broken...

Damaged and broken.

Twisted perhaps, but also broken.

I had been looking 

For my lost pieces. 

I found them in you.

You glued them together

With a labelled “due by” glue.

I keep falling apart,

I keep having to return to you

So I can be whole again.

You keep missing pieces…

Making sure I have to return to you.

You are my salvation and my penitence…

I cannot be whole unless I am with you.

You gave me wings so I can fly

Only by your side. They don’t work otherwise.

I am broken…

Glued back in pieces

To be handled only by you.

You are my freedom and my prison.

My world begins and ends in you.

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Adelaide Miranda, 10/10/2016


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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Em alto e bom som

Sabes que mais? Estou cansada! 
Estou cansada de guardar o que sinto cá dentro. 
Vou gritar em alto e bom som! 
Já não aguento esta angústia, esta dormência... 
Vou gritar em alto e bom som!
Estou farta de fingir que a tua indiferença não me incomoda.
Vou gritar em alto e bom som!
Sabes que mais? Chega!
Chega de fingir que não estou louca para cair nos teus braços.
Vou gritar em alto e bom som:
Amo-te! Quero-te! Desejo-te! 
Preciso-te! Necessito-te! 
Ah, porra! 
Amo-te! Amo-te! Amo-te!
Amo-te em alto e bom som!

Adelaide Miranda, 06/10/2016
Foto retirada da net

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Náufraga


Perdida… Era assim que se sentia ultimamente. Completamente perdida, sem rumo, sem lugar...

Tinha uma vida boa, muito boa. Não sabia o porquê de sentir-se náufraga.

Tinha a certeza que o mundo estava completamente equivocado. Não bastava seguir as regras da sociedade, não bastava fazer tudo como manda o figurino, não bastava...

Deborah tinha 27 anos e a vida corria como tinha sido programada, por si, pelos seus pais, pela sociedade... Licenciada, casada e com um filho nos braços, tudo a seu tempo. Porém, algo sufocava o seu coração. Algo afligia a sua alma. Não sabia bem o que era. Precisava descobrir...

João, casado com Deborah, sentia-se o culpado da infelicidade da mulher. Sempre tentara de tudo para fazê-la feliz, mas não conseguia. Ao olhá-la nos olhos via um vazio, uma insatisfação... Moravam na casa com piscina que ela sempre mencionou, conduziam o carro que ela sempre mencionou, não lhes faltava nada... Faltava-lhe parte da alma...

- João... Acho que vou ausentar-me por uns tempos... – disse enquanto se preparava para ir para o trabalho.

- Ausentar, como assim?

- Preciso sair daqui... Já falei com a minha mãe para ficar com o Lucas por uns dias...

- Já falaste com a tua mãe? Ausentar-te? – colocou-se em frente ao espelho e olhou-a nos olhos – Não és feliz comigo, Deborah? É isso?

- João, sabes bem que não é isso... Eu sou feliz contigo... Não sou é feliz comigo, percebes? Preciso saber o que se passa comigo. Tenho tanto e no entanto...

- Amas-me, Deborah? Diz-me, por favor?

- Não sejas tolo... Amo-te a ti e ao nosso filho. Adoro a nossa vida, mas falta-me algo. Há algo que não estou a fazer. Algo que me está a faltar. Não consigo explicar, mas bem no fundo de mim sinto uma angústia, uma dor... Preciso sair daqui, percebes? Tentar entender o que se passa comigo.

- E vais para onde? – perguntou conformado com a decisão.

- Vou para a Serra do Gerês. Isolar-me, pensar... Entendes?

- Desde que prometas que não me vais deixar...

- Nunca! – Abraçou-o e beijou-o apaixonadamente. – Sou feliz por ter um homem como tu ao meu lado. Está na altura de dar-te a esposa que tu mereces.

Enquanto conduzia mil coisas passaram-lhe pela cabeça... Sentiu um aperto no estômago ao despedir-se do João e do Lucas, mas tinha de fazê-lo... Para o bem dela, para o bem deles...

Inicialmente teve dificuldade em concentrar-se, passou a maior parte do tempo a chorar. Chorou por tudo o que não tinha chorado e por tudo o que ainda haveria de chorar.

Com o passar das horas e dos dias conseguiu abstrair-se do mundo à sua volta e focar-se na imensidão do seu mundo interior. Descobriu memórias esquecidas e lembrou-se de quando tinha sido feliz pela última vez, antes do João, antes do Lucas, antes da faculdade...

Lembrou-se daquela tarde de Verão em que sentada na sala a ver “Música no Coração” cantou as músicas todas, junto com a irmã, dançou e imitou várias cenas do filme. Lembrou-se da promessa que fizeram uma à outra de que um dia iriam fazer o mesmo... Encenar, cantar, dançar tudo num só... Lembrou-se da paz que sentiu quando ambas se abraçaram e prometeram uma à outra nunca esquecer esse sonho...

Ali, naquele momento, Deborah percebeu. Percebeu o que a fazia infeliz: tinha-se se esquecido o que a fazia feliz, a ela própria. Seguiu os passos que os pais e a sociedade esperavam de si. Esqueceu-se do que ela tinha prometido a si mesma: ser feliz!

Nessa mesma noite voltou para casa. Abraçou o marido e o filho com tanta força... Abraçou-os e agradeceu a Deus que eles fizessem parte da sua vida.

- João, amanhã vou inscrever-me na escola de teatro. – Disse quando se preparavam para ir dormir.

- Escola de teatro? Não percebo... – Perguntou confuso.

- Sabes? Sempre quis ser actriz de teatro, fazer musicais... Esse era o meu sonho, antes de...

- A sério? Nunca me falaste sobre isso...

- Pois é, João... Esqueci-me do que realmente me fazia feliz. Do que alimentava a minha alma...

- Amor, se é isso que tu queres, força. Apoio-te no que foi preciso...

O tempo passou... As cortinas abriram-se e Deborah olhou para o público à sua frente. Sentiu uma breve dor no estômago e respirou fundo. Fechou os olhos e lembrou-se da promessa que fez à irmã...

A peça terminou e saiu do transe. O público levantou-se e aplaudiu. Na primeira fila, estava o seu João com lágrimas nos olhos. Deborah, sorriu, fez uma vénia e agradeceu ao público. Chorou também de emoção. Não foi fácil chegar ali, foram meses de aulas e meses de ensaios. Meses de dúvidas, medo e ansiedade. Ali, naquele palco, perante o público, pegou no leme do seu navio. Não era náufraga, Deborah, era finalmente a comandante do seu destino.


Adelaide Miranda, 05/10/2016
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domingo, 2 de outubro de 2016

Amor, Traição e Kizomba - Excerto

Senti-me a perder o controlo e apertei-a contra mim. Beijei-a sofregamente e explorei a sua boca com a minha língua com uma vontade enorme de devorá-la. Afastou-me, tirou a blusa e fez-me esfregar a cara nos seus peitos. Saboreei os mamilos rijos e trinquei-os ligeiramente até fazê-la gemer de prazer. Levantei-lhe a saia e tirei-lhe as cuecas com apenas um gesto. Agarrei-lhe os cabelos enquanto a olhava nos olhos e penetrei-a com os dedos.

– É isto que queres de mim?
– Quero mais do que isto... Quero que me preenchas.
– Os meus dedos não te chegam?
– Não! Quero sentir-te, quero-te todo dentro de mim.

...

Excerto de "Amor, Traição e Kizomba", de Adelaide Miranda.

Disponível numa livraria perto de si...


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sábado, 1 de outubro de 2016

Por um fio...

Encontrou-a caída no chão e correu até ela. Com o coração nas mãos, os segundos que demorou a percorrer a distância que os separava pareceram uma eternidade. Agachou-se e colocou o ouvido sobre o peito da mulher que ele amava. As mãos tremiam e o terror, o pavor, de não a encontrar com vida quase que o paralizavam. O barulho ensurdecedor do medo quase não o deixou ouvir o coração dela a bater... Para seu alívio, batia, de leve, mas batia. Enquanto a abraçava rezava para que tudo estivesse bem. 
- Acorda, amor, por favor. - Sussurrou-lhe ao ouvido. - Acorda, amor... Acorda.
Abraçou-a enquanto esperava a ambulância. Deitou-se, ali, com ela à espera que alguém os viesse salvar. Sim, também ele precisava de salvação. Se alguma coisa acontecesse com ela a sua vida deixava de fazer sentido. Qual a razão de existir se não para a fazer feliz? De que serviria ele a este mundo se não fosse para contribuir que ela brindasse a humanidade com o seu sorriso?
Os paramédicos chegaram e ele ficou parado a vê-los trabalhar, como que em câmara lenta, sem conseguir afastar-se dela.
Ouviu-os a falar com ele mas não tinha forças para raciocinar. De repente, não conseguia entender a língua que falavam. Viu-os a afastarem-se com a maca em direcção à porta e só aí recuperou o controlo do seu corpo. Correu, correu e colocou a mão sobre o ombro do paramédico que se encontrava já a fechar a porta da ambulância. Saltou lá para dentro e agarrou a mão da sua mulher, da sua vida... Apertou-a com força.
- Salvem-nos, por favor. - Suplicou ao paramédico. - Salvem-nos.
O paramédico assentiu e fechou a porta da ambulância. 
O barulho da sirene lembrou-lhe que estava numa corrida para salvar a própria vida. Sentiu a urgência e olhou para a sua mulher, a sua vida...
- Acorda, meu amor, acorda. - Beijou-lhe a mão e inalou, de olhos fechados, o seu cheiro. - Eu amo-te, meu amor... Acorda, por favor....

Adelaide Miranda, 1/10/2016

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Por inteiro

Quero tudo... Não quero que me ames pela metade. Quero a totalidade do teu amor, a totalidade da tua alma, a totalidade do teu ser... Não quero sentir aos bocados. Não quero um amor aos pedaços. Quero tudo... Quero-te por inteiro. Quero que me ames por inteiro. Quero que me queiras como eu te quero, completamente... Inesgotávelmente... Infinitamente... Totalmente. Tudo... Quero tudo! Simples, assim...

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Adelaide Miranda, 23/01/2016

Foto retirada da internet

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Desespero

Dou por mim, sentada à janela, a olhar para o mundo lá fora. Está escuro... Está escuro mas mesmo assim tento encontrar a tua silhueta no meio de tantas sombras que vejo a passar.
Dou por mim, sentada à janela, a tentar perceber porque foste embora. Está frio... Está frio dentro desta casa em brasa com os aquecedores todos ligados na potência máxima.
Dou por mim, sentada à janela, a relembrar todos os momentos que passamos juntos. Está distorcido... Está distorcido o nosso passado e não consigo aceitar este presente e o temível futuro.
Dou por mim, sentada à janela... Dou por mim... No parapeito da janela... Dou por mim... A sentir o vento nos cabelos enquanto vejo o chão a aproximar-se. Dei por mim... Não soube existir sem ti.

Adelaide Miranda, 27/09/2016
Imagem retirada da internet

sábado, 24 de setembro de 2016

Fome de ti...



Hoje acordei com fome de ti. Aninhei-me nos teus braços e tentei fundir-me a ti. Queria ficar assim, o dia todo. Esquecer o mundo e alimentar-me do teu calor, do teu cheiro. Há dias em que só me apetece perder-me em ti, e ficar perdida indefinidamente. Que ninguém me procure, por favor. Deixem-me ali perdida no teu ser. Abriste os olhos, olhaste para mim e sorriste. Apertaste-me mais contra ti. Ah!.... Oh Vida! Hoje acordaste também com fome de mim. Deixemo-nos ficar aqui enroscados e perdidos um no outro. Que o mundo não nos interrompa, por favor...

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Adelaide Miranda, 24 Setembro 2015




Para sempre...


Para sempre... Até que a morte nos separe. Na saúde e na doença... Na riqueza e na pobreza. Na alegria e na tristeza. Até ao fim dos meus dias. Para sempre... É assim que eternizamos o nosso amor perante Deus, perante a família e perante os amigos. Assim juramos enquanto trocamos alianças que representam a nossa união. Planeamos o dia na perfeição, por vezes com um ano de antecedência, ansiosos de nos unirmos para sempre. Ali, no dia do nosso casamento. Porém... O dia da nossa união, não é o dia do nosso casamento. Para mim foi o dia em que a minha alma se cruzou com a tua e nunca mais a conseguiu esquecer. O dia em que a minha alma se cruzou com a tua e fez penitência até te pertencer. O dia em que a minha alma se cruzou com a tua e passou a ter fome e sede de ti apenas. Foi nesse dia. No dia em que olhei para ti e reconheci-te de outras vidas. Em que a minha alma sorriu e encontrou o pedaço que lhe faltava. O dia da nossa união foi no dia em que te conheci. O dia em que as pernas me tremeram e o coração bateu descompassado só por te ver sorrir. O dia em que desejei ser a única mulher no planeta para que tivesses olhos só para mim. O dia da nossa união foi assim.   Começou como um dia qualquer e terminou como o primeiro dia do resto da minha vida. O dia da nossa união não foi planeado com antecedência, nem programado ao minuto. O dia da nossa união simplesmente aconteceu. Foi assim naquele segundo, naquele momento em que eu olhei para ti, tu olhastes para mim e as nossas almas sorriram. Foi lindo esse dia, inesperado, mágico. Sim, foi esse dia. O dia em que nossas almas juraram para sempre... até que a morte nos separe outra vez... Só os dois, com um olhar, com um sorriso, com um pousar de olhos... ali, assim eternizamos o nosso amor.. Para sempre!

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Adelaide Miranda, 23 Setembro 2015


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Despimento

Despimento

Está frio...
Sinto um arrepio na pele.
As lágrimas que verto
congelam à saída.
Abraço-me mas
não me aqueço.
Não consigo...
Envolta em mantas,
à beira da lareira,
com o carvão em brasa.
Mas...
Está frio...
Sinto o sangue a gelar
nas veias.
Os dedos inertes,
sem cor, sem vida.
Esfrego as mãos mas
não as sinto.
Não consigo...
À minha volta
os outros dançam,
riem e cantam.
Mas...
Está frio...
Sinto o coração
a deixar de bater.
A respiração cessa
lentamente.
Tento chamar por ti...
Não consigo...
Partistes com um 
até nunca.
Levastes tudo o que
me aquece contigo.
Aqui vestida de tecido,
despida de ti...
Está frio...
Queria viver,
mas...
Não consigo!

Adelaide Miranda, 10/07/2015

Photo from internet

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Reflexos da Lua - Primeiros Capitulos


PROLÓGO

     

A viagem de avião tinha finalmente terminado. Assim que as rodas pousaram no chão e o avião finalmente parou, aquela sensação de estar numa pista de corrida em velocidade máxima com os olhos vendados e com o estômago a querer sair pela boca cessou. O meu coração ainda estava descompassado, mas mais calmo. Afinal de contas tinha sobrevivido. O medo de viajar de avião era coisa que dificilmente eu iria perder. Fizesse as mil viagens que fizesse, o facto de a minha vida estar nas mão de um piloto que eu nunca vi, nem mais magro nem mais gordo, e não ter o mínimo de controlo sobre o voo era algo que nunca me iria permitir relaxar durante uma viagem de avião. Mas aterrámos. Peguei na minha mala e aguardei pacientemente que abrissem as portas para poder sair dali. À minha volta a azáfama da aterragem, a preocupação de não deixar nada para trás, o nervosismo e a ansiedade tomavam conta dos passageiros. Parece que finalmente podiam respirar.

Do avião até ao controlo de passaportes pareceu uma segunda viagem. Corredores e mais corredores, curvas e contra curvas, até chegarmos à sala ampla repleta de seguranças,  polícias e pessoas de diferentes culturas e credos. O controlo de passaportes sempre me fez lembrar a passagem da Bíblia sobre a Torre de Babel, várias línguas e vários países representados num espaço de quinhentos metros quadrados, ou mais. O agente da imigração olhou-me nos olhos, olhou para o cartão do cidadão e novamente para os meus olhos, como que a confirmar que eu era realmente quem dizia que eu era. Perguntou-me brevemente de onde eu vinha, e eu respondi que vinha de Dublin. Respondi em inglês, obviamente, e ele surpreendeu-se com o meu sotaque impecável ao olhar para o cartão de cidadão português. Olhou-me nos olhos uma vez mais e entregou-me o meu documento de identificação como que a dar-me permissão de entrar no seu país.

Segui as direções para a recolha de bagagens e fiquei ansiosamente à espera da minha malinha, que continha apenas umas peças de roupa. Nem sei porque me dei ao trabalho de a despachar, teria poupado tempo se tivesse apenas atirado umas quantas peças para a minha mala à tircolo tiracolo. Mas também pressa do de quê? E para quê? Não havia necessidade de correr para as ruas de Londres, uma vez que já tinha visitado todos os locais que os turistas têm por obrigação de assinalar no roteiro. Provavelmente, a minha irmã estaria à minha espera na zona de chegada e iriamos iríamos direto para casa da minha mãe onde uma comidinha quente nos esperava, certamente.

Avisto a minha irmã nas chegadas e, controladamente, dirijo-me até ela. O sorriso contagiante e a alegria genuína por me ver apertou-me o coração daquele jeito que só quem tem irmãos é que consegue descrever. Abracei-a com genuína saudade e felicidade e deixámo-nos estar assim por um pouquinho. Nunca fomos de mostrar muito afeto, muito menos publicamente. Sempre achámos algo embaraçante, sentir todos os olhos em nós. Como os animais no zoo, ali expostos sem ter onde se esconder.

No meio deste abraço, ouço uma voz que imediatamente reconheço. Congelei ali mesmo, naquele espaço. Deixei-me estar por instantes com medo de virar a cabeça e ver que aquela voz era mesmo de quem eu pensava que fosse. Quantos anos se tinham passado? Seria possível que um acaso do destino nos tivesse juntado na sala de chegadas do aeroporto do país que há tantos anos atrás nos tinha separado? Não podia ser. Estagnei, com o coração a bater descompassado, com as pernas a tremer. As mãos suadas, um aperto no estômago e no peito. Como podia a possibilidade, a mera possibilidade, de o encontrar ali deixar-me assim? Como podia o som de uma voz paralisar-me e trazer de repente emoções que há muito se tinham perdido em mim? Saí do transe e ganhei forças para me virar. Procurei com os olhos com medo do que fosse encontrar.

E ali estava, a sorrir. A acenar para alguém que havia acabado de chegar. O sorriso que sempre lhe foi característico estampado na cara. Não tinha mudado nada. Continuava igualzinho ou, se calhar, até mais bonito. A questão de quem poderia estar a causar aquele sorriso ficou a rodar na minha cabeça. Incrível como em segundos, o sentimento de ciúme apoderou-se de mim, por uma pessoa que não era de modo nenhum, minha. Os ciúmes transformaram-se em medo, como se ali naquele momento fosse realmente o fim de algo que já tinha terminado há muito tempo. E os nossos olhares cruzaram-se. Ficou também paralisado, boquiaberto a olhar para mim como se tivesse visto um fantasma. Reparei que abanou ligeiramente a cabeça, talvez numa tentativa de que o fantasma desaparecesse.

Senti uma enorme sensação de alívio quando reconheci a irmã dele. Sorri por dentro e uma esperança de adolescente apoderou-se de mim. O fim poderia afinal não ser o fim. Quem sabe, o destino uniu-nos ali?

Sempre ouvi dizer que o que tem de ser tem muita força. Que o destino arranja sempre uma maneira de juntar as pessoas que realmente se amam de verdade. Durante algum tempo acreditei nisto mas, com o passar dos anos, tive que forçosamente deixar de acreditar. Comigo, o destino parecia nunca resultar. Durante anos, procurei-o em todos os locais onde fui, em todas as festas, em todos os autocarros, em todos os metros. Andei sempre com a cabeça erguida à procura. Mas, com o passar do tempo, dei por mim a deixar de procurar. Com o passar do tempo aceitei que o que tínhamos vivido não tinha passado de um sonho. Afinal de contas, eu não tinha o direito de ser feliz, o amor nunca iria resultar para mim… No último dia que estivemos juntos apaguei todos os seus contactos. Com lágrimas nos olhos, apaguei os números de telefone dele e os respetivos e-mails. Seria melhor assim. Seria mais fácil, assim. As últimas palavras dele para mim foram: “O destino tem muita força. O que tiver que ser será. Se um dia nos voltarmos a encontrar é porque estamos destinados um para o outro.”

A minha irmã abanou-me. Saí do transe. Ele olhou para mim, agarrou a irmã pela mão e dirigiu-se até mim.

O meu coração parou de bater por segundos, as pernas perderam as forças e tive que me agarrar à minha irmã para não cair. À medida que ele se aproximava eu pedia a Deus as forças necessárias para não perder a voz, pedia a Deus que se fosse um sonho me acordasse antes de ele chegar ao meu lado. E quanto mais ele se aproximava, a certeza de que nunca tinha deixado de o amar apoderou-se de mim. Eu sempre soube. Sempre soube no meu íntimo que o meu sentimento seria para sempre. Só fiquei na dúvida se ele sentia o mesmo por mim…


Aceda aos primeiros 5 capítulos:
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Falar de Amor...

Falar de amor...

Falar de amor... É sempre complicado.
É complicado falar de algo que não tem uma definição concreta e que varia de indivíduo para indivíduo.
Falar de amor... É sempre complicado.
É complicado falar de algo que não tem forma nem dimensão.
Falar de amor... É sempre complicado.
É complicado falar de algo que causa tanta alegria e por vezes tanta dor.
Falar de amor... É sempre complicado.
É complicado falar de algo que nos vicia, que nos torna dependentes.
Falar de amor... É sempre complicado.
É complicado falar de algo que existe numa forma que não é para ser falada mas sentida.
Falar de amor... É sempre complicado.
O amor não é para ser falado. O amor é para ver vivido.

Adelaide Miranda, 21/09/2016


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Como amar com medidas?

Dizem-me que amo demais...
Dizem-me que mostro que amo demais...
Dizem-me que devia amar menos, ou mostrar que amo menos.
Mas como pode alguém amar menos?
Como pode alguém medir a quantidade de amor?
Existe alguma forma de controlar a quantidade de amor que se tem para dar?
Existe um termómetro de amor? Ou um controlador de nível de amor?
Existe alguma válvula de fecho quando se atinge um determinado nível?
E quem determina o nível?
Quem sabe dizer quando se ama demais  ou de menos?
Tantas perguntas sem resposta...
Tantas perguntas que nem o meu coração sabe responder.
Não existe medida de amor.
Ama-se e pronto.
Não sei se amo demais ou de menos.
Amo, e amo, e mostro.
Não sei esconder o que sinto.
Amo, e amo, e não me envergonho de amar.
Dizem que amo demais...
Não sei dizer, não tenho medidor de nível de amor.
O amor não se mede, sente-se.
Se amo demais ou de menos... Não sei.
Não me importa.
Amo e pronto!

Adelaide Miranda, 02/09/2016
Foto retirada da internet

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Amor de Amor - Um Conto



O que acontece quando duas almas se amam e temem que a afirnação pública desse sentimento o estrague?
Consegue-se amar uma vida inteira sem o falar abertamente?

Amor de Amor


 

I

 

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. Tão simples quanto isso. Ela amava-o e ele era o seu amor. Aquele amor… O Amor, sabes?

Aquele amor que se quer escrever com letra grande: Amor!

Aquele amor que se quer gritar alto, bem alto, com todas as forças dos nossos pulmões: AMOR!

Aquele amor que dá um friozinho na barriga e uma volta ao estomâgo só de se pensar que se pode perder. Aquele amor… O Amor, sabes?


 
II

 

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. Só era uma pena que ele não o soubesse. Eram amigos há tantos anos. Já partilharam tantos momentos. Tantas e tantas coisas viveram juntos.

Mas ele não sabia que era o seu amor. Tantas foram as noites em claro a falar dos planos para o futuro, a planear as suas vidas em separado. Tantas foram as vezes que na brincadeira ela propôs que as vivessem em conjunto. E ele sempre no seu jeito de menino sorria e dizia que nunca se iriam separar. Amava-a, como a uma irmã. Aquela que nunca teve…

E ela respondia sempre com a voz sumida: “Eu amo-te claro, és tudo para mim…”. E por segundos sentavam-se ambos em silêncio a contemplar as estrelas, até que ele cortava o silêncio com uma nova história ou piada.

Tantas foram as vezes que ela quis perguntar o que ele pensava naqueles momentos. Será que secretamente ele também a amava? Seria pedir demais? Seria sonhar alto demais? Mas estava grata. Já partilharam tantos momentos. Tantas e tantas coisas viveram juntos.


 
III

 

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. E perdia-se na intensidade do seu olhar. Deixava-se ir no espelho da sua alma. Transportava-se para dentro do seu ser.

O mundo através dos seus olhos valia a pena ser vivido. Os obstáculos valiam a pena de ser ultrapassados. Os sonhos valiam a pena ser sonhados. A felicidade ganhava uma maior intensidade. Não existiam problemas, só soluções. Tudo fazia mais sentido quando visto pelos seus olhos.

É tão bom amar assim. É tão bom amar deste jeito. Daquele jeito em que nos sentimos seguras. Daquele jeito em que acordamos a sorrir e nos deitamos a sorrir. Daquele jeito em que nos apanhamos a sonhar acordadas. Daquele jeito que mesmo sem música nos dá vontade para dançar. Amar sem questões. Amar só por amar.

E ela amava-o assim. Tão forte, tão profundo. De uma forma até difícil de explicar. De uma forma que não havia nada para cobrar. De uma forma que bastava estar ali, só pertinho dele. Juntinho. A falar de coisas sérias ou de baboseiras. Ali… juntinho. Que forma tão linda de amar. E por amá-lo tanto assim, deixava-se ir no espelho da sua alma. Transportava-se para dentro do seu ser.


 
IV

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. E guardava em sua memória todas as suas feições. E o contorno do seu rosto. Memorizava cada nova linha de expressão. Fechava os olhos e conseguia desenhá-lo. Esculpi-lo com olhos vendados. Encontrá-lo no meio de uma multidão. Reconhecia a sua respiração. Dançava ao ritmo do seu coração.

Mas como pode alguém amar assim sem ninguém o saber? Mantinha a sua paixão em segredo. E quando perguntavam quando iria arranjar namorado, respondia num tom apressado que agora era tempo de estudar. Tempo de organizar a vida. Tempo de se tornar efetiva no trabalho. Tempo de apostar na carreira. E o tempo sendo tempo, sempre a passar. Mas quem precisa de namorar quando passa toda a sua vida a amar?

Das namoradas que ele teve, perdeu a conta. E como bela confidente arranjava sempre um defeito. “Aquela é feia. Esta fala muito. Aquela é muito baixa. Esta nunca fala. Aquela está sempre grudada em ti. Esta nunca tem tempo para ti.” E quando ele reclamava e perguntava como teria de ser a sua namorada para que ela a aprovasse, ela respondia num tom de voz sumido: “Olha tem de ser assim como eu. Parecida comigo. Tem de estar sempre junto de ti. Tem de te apoiar. Tem de te chamar à razão. Basicamente tem de te amar. Assim como eu!”. Ele sorria e dizia que assim nunca ia casar, porque ela era única…

Sim ela era única. Era provavelmente a única que o amava pelo que ele foi, pelo que ele era, pelo que ele algum dia seria. Ela era provavelmente a única que o encontrava no meio da multidão, que reconhecia a sua respiração… Dançava ao ritmo do seu coração.

 
 

V

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. E aceitou esse amor como uma condição. Nunca tentou descobrir de onde veio, quando veio ou porque ficou. Nunca tentou desvendar o mistério desse amor. Nunca tentou julgar esse amor.

Quando se ama alguém, temos a tendência a tentar descobrir o que fez com que esse amor nascesse. Tentamos encontrar o momento, aquele momento em que passou de afeição, passou de atracção, passou de paixão e tornou-se amor.

As crianças têm uma tendência a amar. Amam porque amam a descoberta. Tudo é novo. Tudo tem o seu mistério. A beleza das coisas à sua volta advém da ignorância. Tudo é lindo. Tudo é novo. Tudo é visto sem maldade. As coisas aceitam-se pelo que elas são. A luz é linda porque ilumina. Como o faz não interessa. O arco irís é lindo porque reflete um padrão de cores num céu normalmente monocrómico. Porque é que a luz é luz? Não interessa! É linda! E ama-se simplesmente por ser. O arco irís é lindo porque é! E ama-se simplesmente por ser.

A tentativa de racionalização de todos os fenómenos estraga a sua beleza. Destrói a sua beleza. Destrói porque deixamos de ser crianças e começamos a perguntar. Começamos a explicar palavra por palavra porque é que a luz é luz. Como se forma o arco íris. Racionalizamos a beleza, racionalizamos o mistério e deixamos de o amar. Mas este amor… Este amor ela nunca o questionou e nunca o racionalizou. É belo simplesmente por ser. É amor por ser amor. Nunca violou a sua beleza com questões que apenas servem para vulgarizá-lo. Ama-o e aceitou. Aceitou esse amor. Nunca tentou desvendar o mistério desse amor. Nunca tentou julgar esse amor.


 
VI

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. E entregou-se a ele de corpo e alma. Mesmo sem ele o pedir. Mesmo sabendo que a sua alma podia não ser dela. Entregou-se. Deixou-se levar. Deixou-se viver em função desse amor.

Tudo à sua volta seguia o seu curso sem parar. O tempo sendo tempo, continuava a passar. Cresceu. Tornou-se de menina em mulher. E o seu amor permaneceu sempre ali no mesmo lugar. Preso por magia no seu olhar.

E sentia-se impotente. Um amor como este teria de se fazer notar. Pensava várias vezes em declarar-se, em render-se ao desejo de cair em seus braços. Em sentir o calor do seu beijo. Em sentir a fragrância do seu corpo. Mas como poderia ela trair este amor? Um amor como este teria de se fazer notar! Tantas foram as vezes que ficaram em silêncio de mãos dadas. Aquele formigueiro que surgia na ponta dos dedos e viajava por toda a extensão do seu corpo era impossível de passar despercebido. Ele sabia. Ele sentia. Só podia. Mas algo o impedia de avançar.

Teve vários pretendentes. Vários homens juraram amor eterno. Prometeram mundos e fundos em troca de uma oportunidade para que ela se deixasse amar. Mas não podia. Era impossível. Todos os outros lhe eram indiferentes. Ela não podia oferecer algo que não lhe pertence. Ela era dele. Só dele. Entregou-se. Deixou-se levar. Deixou-se viver em função desse amor.



VII

“És o meu amor!” Pensava ela para si quando o olhava nos olhos. “És o meu amor!”. Tão simples quanto isso. Ela amava-o e ele era o seu amor. Aquele amor… O Amor, sabes?

E quando se deu conta já não era menina, já não era moça. E o amor cresceu com ela. O amor cresceu nela, sem nunca o declarar. Já era velhinha, já era tarde. Já não tinha forças para gritar, Amor!

E quando a sua hora chegou sentia-se feliz. Sentia que conseguiu guardar o seu amor. Mantê-lo ali só para si. E guardando esse amor, manteve-o a ele sempre ao pé de si. Sempre ao seu lado em todas as situações da sua vida. Com ele partilhou tudo menos a cama. Manteve o seu amor puro, porque nunca o tentou desvendar, nunca o tentou apagar, nunca o tentou consumar.

Mas agora que as forças abandonavam o seu corpo, de que adiantava guardar esse segredo? Para aonde mais iria levar esse amor? E bem baixinho, com a voz meio sumida disse-lhe ao ouvido: “Sabes? Por todos estes anos tens sido o meu amor. Aquele amor que dava até medo de dizer que era amor. Aquele amor que me acompanhou em todas as fases da minha vida. Aquele amor que dá um friozinho na barriga e uma volta ao estomâgo só de se pensar que se pode perder. Aquele amor… O Amor, sabes?”

E ele bem baixinho, com lágrimas a rolarem os olhos, respondeu: “Eu sei que sou o teu amor. Tu sempre fostes o meu amor. Aquele amor que não podia perder. Aquele amor que tinha de guardar só para mim. Aquele amor que temia que ao tornar-se publico fosse desvendado, fosse racionalizado, que fosse exterminado. Aquele amor que me fazia acordar todos os dias feliz por saber que tinha só para mim. Assim bem dentro do meu coração. E carreguei-o comigo toda a vida dentro do meu coração. E alimentava-o com o teu sorriso, com o teu olhar, com a tua beleza, com o teu silêncio, com a tua forma bela de me amar. E esse amor ficou amor, amor só de amor. Amor simplesmente por ser amor. Amor puro. Amor mistério. Amor de amor.”

“És o meu amor!” Disseram os dois em voz alta enquanto ela fechava os olhos. “És o meu amor!”. Tão simples quanto isso. Sem explicações. Eles amavam-se e viveram sem viver o seu grande amor. Aquele amor… O Amor, sabes?

Amor só por ser amor. Amor incondicional. Amor eterno. Amor de amor!

 

 
Adelaide Miranda, Setembro 2015