quinta-feira, 28 de junho de 2018

Dicas da Adelaide - Acredita nos teus sonhos!

Dicas da Adelaide - Acredita nos teus sonhos
“O sonho comanda a vida”! E comanda mesmo. Esta frase não é uma frase banal criada apenas para motivar em tempos de desânimo. O sonho comanda, mesmo, a vida!
Quem não tem sonhos apenas se arrasta pela vida. Os dias arrastam-se rotineiros e sem cor.
O sonho é o motor que nos faz vibrar, lutar, acreditar! 
O mundo em que vivemos hoje foi criado por sonhos. Alguém sonhou com a luz elétrica, alguém sonhou com carros movidos a motor, alguém sonhou com comboios e aviões, alguém sonhou com computadores e telemóveis, alguém sonhou...
Contudo, não sonharam apenas! Sonharam e acreditaram quando ninguém achou que era possível. Não baixaram os braços perante as adversidades e acreditaram até verem os sonhos materializarem-se. Chamaram-nos loucos! E a loucura dos grandes sonhadores molda a sociedade em que vivemos.
Sejamos todos loucos e acreditemos nos nossos sonhos. Façamos de tudo para dar-lhes vida!
Sonhem e acreditem nos vossos sonhos! Sonhem e sejam felizes, sempre!
Adelaide Miranda, in “Guia Prático da Proatividade”



Dicas da Adelaide - Sê Sociável

Dicas da Adelaide - Sê Sociável
O famoso rosto sisudo... Temos a tendência para estar de mal com o mundo. Acordamos com a cara trancada e vamos para a cama com a cara trancada. Não nos damos aos outros porque temos medo que tenham más intenções, afinal de contas são todos iguais. O justo paga pelo pecador, contudo devo dizer-vos que quem paga somos nós.
Não há nada melhor do que dois dedos de conversa genuína. Sentarmos e tirarmos tempo para verdadeiramente conhecermos as pessoas que nos rodeiam.
O maior presente que ganhei com a publicação dos meus livros foi o número de pessoas que conheci. Troquei o rosto sisudo por um sorriso e tenho vivido uma experiência maravilhosa. Há tanto para aprender com os outros. E para além disso, o sorriso e a boa disposição são o passaporte para a felicidade.
Abracem a vida sempre com um sorriso nos lábios, conversem com os vossos vizinhos, tirem tempo para ouvir as maravilhosas histórias de vida que existem à nossa volta!
Sejam sociáveis e verão que serão mais felizes!
Adelaide Miranda, in “Guia Prático da Proatividade”




Dicas da Adelaide - Amor, sempre!

Dicas da Adelaide - Amor, sempre!
Não existe felicidade sem amor. Porém, o amor deve ser definido. Quando falamos de amor, associam logo a um casal, a uma relação... O amor, porém, está relacionado com tudo o que fazemos. Devemos amar tudo o que fazemos, apreciar e valorizar.
Quando amamos o que fazemos deixamos de sentir o peso da obrigação. Fazemos porque queremos, porque nos sentimos bem a faze-lo e, como bónus, nem damos pelo tempo a passar.
É importante seguirmos os nossos sonhos e construirmos a nossa vida em função do que amamos e nos faz verdadeiramente feliz.
Devemos procurar um trabalho que amamos fazer, que nos faz sentir bem, que não é apenas uma forma de sustento. Tem de ser algo que nos dê prazer.
Devemos ter tempo para os nossos hobbies, para os nossos momentos a fazer aquilo que mais amamos.
No nosso dia a dia, se trouxermos amor connosco no coração seremos mais felizes em tudo o que fazemos.
Amem muito, amem sempre e sejam felizes!
Adelaide Miranda, in “Guia Prático da Proatividade”




Cansaço

Encosto-me num canto e decido deixar de respirar.
Cansei desta luta constante, desta vida...
Cansei desta busca interminável...
Cansei de ouvir as vozes, que não se calam, na minha cabeça.
Que a respiração termine e rápido. Não aguento mais a clausura neste vaso insípido.
Um vaso quebrado e sem sentido...
Encosto-me num canto e deixo-me ir...
Até sempre, que libertação ao deixar de existir!
Adelaide Miranda, in “Poesia, Textos e Devaneios”



quarta-feira, 20 de junho de 2018

Dicas da Adelaide - Descobre a tua Vocação

Tenho aprendido muito...
Durante muito tempo senti que faltava alguma coisa. Sentia-me incompleta e muito ingrata.
Abençoada com uma profissão estável, com um filho maravilhoso e saudável, com uma família numerosa, muitas vezes sentia-me incompleta. Esse sentimento deixava-me muito infeliz porque sentia-me ingrata. Ingrata por ter tanto e ainda assim sentir que me faltava algo.
Virei-me para a minha poesia e percebi o que me faltava. Faltava-me a minha essência. Falta-me fazer as coisas que sempre me deram prazer quando era criança: escrever, inventar histórias, inventar músicas, inventar peças de teatro.... Deixei-me levar pela vida e perdi-me de mim mesma.
E uma vez mais, tal como na adolescência, a minha escrita salvou-me. O meu refúgio e a minha terapia são as palavras que fluem para o papel. 
Não sou formada em letras e por vezes, a maioria das vezes, sinto que a minha gramática não é suficiente para textos bem trabalhados e recheados com a beleza da literatura portuguesa. Confesso que tenho dificuldade com vírgulas e misturo, por vezes, os tempos verbais. Contudo, quando escrevo não é essa a minha preocupação. Quando escrevo a minha intenção é contar uma história. Uma história que tem que ser contada. Uma história que todos possam ler... Não sou formada em letras, mas sou formada em histórias.
Desde pequena que tinha a capacidade de ter os meus primos à minha volta ansiosos por novos capítulos das Aventuras do Xinbiliqui na Europa. Todos os dias os capítulos ganhavam mais suspense e reviravoltas. Afinal, sempre fui contadora de histórias.
E desde pequena que sempre tive a capacidade de resumir em palavras mais simples os tópicos mais complicados. É isso que faço com os meus guias. Tenho partilhar com os outros tudo o que aprendi com os livros que leio e que senti que tenha adicionado valor à minha vida. Gosto de partilhar experiências e comunicar. Afinal, sempre fui comunicadora.
Com isto, acabei por falar mais de mim do que esperava. O que quis partilhar convosco foi a necessidade que temos de não esquecer o que nos define. A necessidade de encontrarmos a nossa essência, o nosso talento...
Todos nós nascemos ricos, todos nós trazemos uma riqueza na nossa alma. Devemos fazer uso dessa riqueza, porque efetivamente é o que nos faz verdadeiramente feliz




Adelaide Miranda, Guia Prático da Proatividade

terça-feira, 5 de junho de 2018

Indecisão

Estava indecisa. Sempre teve dificuldades em tomar decisões relativamente ao seu futuro.
Era difícil escolher um caminho, sabendo que esse caminho pode mudar o curso de uma vida.
Imaginava-se em frente a um entroncamento, sem qualquer sinalização, sem saber qual o caminho a seguir. Sentia-se ansiosa, mas tinha de decidir.
Sentou-se à mesa e pegou num papel e caneta. Separou a folha com um risco ao meio. De um lado colocou os prós, e do outro os contras. Pensou racionalmente e olhou para a enorme lista de prós e o contra solitário. Contudo, o coração pesava ao olhar para aquele contra que sozinho parecia ter mais peso do que tudo o resto.
Racionalmente, sabia o que era melhor para si. Emocionalmente... 
A oferta de trabalho era irrecusável, tinha trabalhado arduamente durante vários anos e, finalmente, via o seu esforço reconhecido. Sempre quis ser a diretora do departamento, mas nunca imaginou que o fosse fazer na sede da empresa na Itália. Contudo, se aceitasse... Se aceitasse deixaria para trás o David... Seria impossível para ele largar tudo e ir com ela, e relações à distância não resultam...
Deborah, não sabia o que fazer. Ela e o David nunca tinham estado tão bem, a relação deles era maravilhosa...
Abanou a cabeça como que afastando qualquer mau pensamento. O que tinha que ser tinha muita força. Mesmo sendo tarde ligou para o David, tinha que falar com ele. Tinha que dizer-lhe o que tinha decidido...
- Olá amor, desculpa se te acordei...
- Nada disso. Estava a pensar em ti e nessa proposta de trabalho e não conseguia dormir...
- David, eu... Eu já tomei a minha decisão. - Falou com um nó na garganta.
- Deborah, sabes bem o que eu penso sobre essa oportunidade...
- David, escuta-me. Eu... Deixa-me falar, por favor...

David, calou-se. Deixou a noiva falar e aparentou estar calmo quando na realidade sentia o coração acelerado e um enorme aperto no estômago...

Adelaide Miranda, 05/06/2018

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Gratidão no coração: Sintam-se gratos e sejam felizes.

Nos últimos anos aprendi o verdadeiro significado de gratidão. 
Finalmente, após muitos anos a balbuciar a palavra sem afinco, e de uma forma meramente róbotica, aprendi a sentir gratidão.
Gratidão sente-se bem dentro de nós. É um sentimento poderoso que nos enche de forças para o dia a dia, para mais uma batalha, para mais um dia de vida!
Sinto gratidão no meu coração. Sinto-me grata por acordar e sinto-me grata por ter chegado ao final do dia e ir-me deitar. 
Sinto-me grata por respirar, por poder ver, ouvir, falar andar, comer, ter um teto sob a cabeça, ter o que vestir, ter uma forma de ganhar a vida, ter um filho saudável, ter uma família unida e na maioria saudável, ter amigos... Sinto-me grata por ser. 
Sinto-me grata por tudo o que me é dado nesta vida, as coisas boas e as menos boas. Aprendi que para crescer tenho de passar por coisas menos boas e fico grata por elas acontecerem  e eu ter a capacidade de tirar o melhor partido delas, nem que seja o aprender com os erros. 
Sinto-me tão grata por tudo, especialmente pelo dom que Deus me deu. Pela minha força e tenacidade, assim como pela minha fraqueza e fragilidade. 
Sinto-me grata pela caminhada dos últimos anos, pelas pessoas maravilhosas que apareceram na minha vida, pelos colegas escritores e autores com almas tão gigantes e generosas
Sinto-me grata e de coração cheio por ver o meu filho a crescer, acompanhar o seu dia a dia, partilhar das suas alegrias e tristezas e, acima de tudo, contribuir com o meu amor para o fortalecer.
É verdade... Nos últimos anos aprendi o verdadeiro significado de gratidão. Sinto-me grata. Sou grata... Poderia enumerar milhares de coisas pelas quais sou grata, mas consigo resumir numa apenas: sou grata pelo privilégio de viver!
Sejam gratos por tudo. Sintam-se gratos e sejam felizes, sempre!

Adelaide Miranda, 01/06/2018

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Livra-te das Pedras no Sapato

Muito nos queixamos nós... 
O povo português tem uma tendência em lamuriar-se e exprimir descontentamento a qualquer momento e sobre qualquer coisa.
Nunca estamos contentes com nada, reclamamos da vida, contudo pouco fazemos para mudar.
Queixamos da pedra no sapato, mas não tiramos tempo para parar, remover a pedra, e voltar a caminhar.
Se chove é porque chove, se está sol é porque não se aguenta o calor, os colegas do trabalho são chatos, o patrão é chato, não tenho trabalho, estou farta do trabalho....
Queixinhas e mais queixinhas e pouca ação.
Não estás contente? Faz algo para mudar as coisas em vez de perder tempo com queixinhas. Foca-te no que tens de bom e como podes alterar o que tens de menos bom.
Não gostas do teu trabalho, sacrifica-te e faz uma formação pós-laboral, atualiza o teu currículo, procura novas oportunidades... Faz-te à vida!
Desculpa, mas passar o dia com lamurias não vai mudar a tua vida.
Arregaça as mangas e vai à luta. Não descanses enquanto as coisas não mudarem. Não aceites coisas da vida que não queres... Proatividade! Persistência! Paciência! Força de Vontade!
Apenas com garra se luta pela vida que queremos. Foca-te!
Que terminem as queixinhas e comece a ação. Livra-te das pedras no sapato e volta a caminhar.
Só assim poderás ser feliz. 
Sejam felizes, sempre!

Adelaide Miranda, 30/05/2018

terça-feira, 29 de maio de 2018

Um grande amor....

A vida corria lá fora, mas Deborah, trancada no seu quarto, estava parada no seu mundo.
Já lhe doíam olhos poisados sobre a fotografia, esbatida e envelhecida com o tempo, mas recusava-se a pestanejar. Queria que esta fosse a última imagem, o último momento, marcada na sua memória.
Sentia o corpo a fraquejar e a desfalecer. Já não tinha muitas mais horas para viver, sabia-o e sentia-o, mas não tinha medo. 
Viveu uma vida plena e só tinha um arrependimento: o de não ter largado tudo para ficar com o grande amor da sua vida.
Conheceram-se ainda novos, na escola secundária, e namoraram alguns anos até a família de Luís emigrar para os Estados Unidos. Durante meses e anos a fio, Deborah, carregou consigo o peso da dor de perder um grande amor. Luís tinha levado com ele uma parte do seu coração, contudo eram os dois menores e os desejos da família falavam mais alto.
A vida passou e ambos, em cantos opostos do mundo, construíram uma vida. Deborah casou-se com um colega da faculdade e Luís com uma americana que trabalhava na loja do seu pai. A vida passou, como sempre passa, mesmo com um pedaço arrancado do coração. 
Deborah amou o seu marido, o David, mas sabia que nunca iria amar ninguém como tinha amado o Luís. A mãe chamava de amores da adolescência...
Num acaso do destino, Deborah e Luís encontraram-se numa exposição em Lisboa. Esbarraram um no outro e, assim que os olhos se cruzaram, reconheceram-se imediatamente. Ficaram parados de olhos nos olhos durante uma eternidade... Beijaram-se e abraçaram-se... 
Sentaram-se num banco de jardim e falaram durante horas... Sem pensar, recolheram-se num hotel e amaram-se perdidamente. Deborah, entregou-se, finalmente, ao grande amor da sua vida como sempre tinha imaginado.
Luís pediu-lhe que largasse tudo e ficasse com ele. Os filhos já eram crescidos, todos haveriam de entender. Tinham poucos anos para viver, então que o fizessem juntos, finalmente juntos.
Deborah, com muito pesar, recusou. Não quis destruir a família que a tanto custo tinha construído. E queria guardar este amor como sempre o teve, puro e livre de discussões e problemas rotineiros. A sua relação com o Luís, sempre tinha sido uma relação perfeita e a sua salvação nos momentos de desespero... Não quis manchar o que tinha de mais belo.
Luís, partiu uma vez mais. Deborah, sentiu a dor de perder um grande amor, uma vez mais...
Com as mãos a tremer, fincou os olhos na foto de ambos, sentados no banco de um jardim, que um estranho tirou enquanto passava. Desde esse dia já se tinham passado 20 anos... Afinal, ainda lhe tinham restado 20 anos para viver o grande amor da sua vida...
Agarrou-se à foto e fechou os olhos... A vida que continuasse lá fora, a sua meia-vida tinha finalmente chegado ao fim.

Adelaide Miranda, 29/05/2018



sábado, 26 de maio de 2018

Disciplina: Estabeleçam rituais, definam regras e cumpram



Disciplina... “Self-Discipline” como se diz em inglês e em português, julgo eu, disciplina pessoal?
Estar ausente do meu país durante tanto tempo gerou uma dificuldade em relembrar-me de alguns termos técnicos. Falemos então de “self-discipline” para que eu possa efetivamente entender o que vos quero dizer.
Temos uma tendência de deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Arranjamos desculpas para adiar o que tem que ser feito, ou porque não temos vontade, ou porque temos outras coisas, que julgamos mais importantes, para fazer.
Contudo, “self-discipline” é a capacidade de fazer o que tem de ser feito independentemente do nosso estado de espírito. Tem a ver com o ditado “o que tem que ser tem muita força”, mas cada indíviduo tem a sua própria definição de urgência e de prioridades.
“Self-discipline” está relacionado com a capacidade de cumprirmos as nossas tarefas, obrigações ou rituais independentemente da nossa vontade. Por exemplo, irmos para a cama sem lavar os dentes porque simplesmente não apetece é uma falha na disciplina. Não fazer exercício matinal porque amanhã é outro dia, é uma quebra de disciplina. Prometer algo e não cumprir é uma quebra de disciplina.
Temos de ter a capacidade de cumprir com as nossas obrigações, necessidades físicas, psicológicas, e compromissos sociais independentemente de nos apetecer ou não. Ter a capacidade de cumprir com as promessas que fazemos a nós próprios é uma das maiores necessidades do ser humano. Define a nossa integridade, a nossa superação, a nossa capacidade de ser genuínos.
É incrível como todos os caminhos nos levam à capacidade de sermos nós mesmos. Ter disciplina implica um reconhecimento de que tudo é uma aprendizagem da nossa capacidade de superação. Aquele relatório que prometemos entregar e já passa das duas da manhã e continuamos em frente ao computador pelo simples facto de cumprir o que prometemos, mesmo quando já se nos fecham os olhos. A sensação de orgulho que sentimos por termos tido a capacidade de superar um desafio pelo simples facto de que não tinhamos como não o superar sem quebrar a disciplina.
Devemos disciplinar a nossa mente e o nosso corpo de acordo com os nossos valores, necessidades físicas e obrigações para com a sociedade.
Deixar para amanhã é o mesmo que adiar a vida e perder um pedacinho do que nos torna íntegros e nos valoriza. A valorização é algo muito pessoal. Todas as noites olho-me ao espelho e relembro cada desafio superado... Faz parte da minha disciplina avaliar o que fiz hoje e preparar o meu amanhã.
Por vezes, quebro a rotina, mas tenho noção que terei a oportunidade de me redimir. Não me recrimino por falhar, felicito-me por voltar a tentar.
Estabeleçam rituais, definam regras e cumpram. Superem-se e sejam genuínos.Sejam felizes, sempre.

Adelaide Miranda 26/05/2018



sexta-feira, 25 de maio de 2018

Conselho de vinho, falso caminho.

O português tem a mania de dar conselhos. Existem, até, vários provérbios sobre conselhos, sendo o mais famoso: "Se conselho fosse bom ninguém dava".
Eu, infelizmente, tenho a mania de dar conselhos. Escapa-se sempre a boca para interferir onde não devo. Defeito de fabrico, mas em estado de reparação. Contudo, tenho uma pequena particularidade. Não dou conselhos sem fundamento. Apenas aconselho com base na minha experiência. Por exemplo, antes de poder vender algum imóvel a alguém tive de comprar, gerir, colocar as mãos na massa. Os meus conselhos têm fundamento e dados concretos baseados na minha vivência. Não gosto de atirar coisas para o ar sem saber do que estou a falar.
Não posso pedir à minha funcionária para se empenhar e cumprir prazos se eu mesma não o fizer. Não posso exigir o que quer que seja sem ter, eu mesma, capacidade de o fazer.
Ou seja, tento que os meus conselhos tenham legitimidade. A melhor coisa do mundo é ser legítimo. Embora "conselho e rapé só se dá a quem quer", tento que os conselhos que dou tenham alguma validade, ao menos para mim. Não posso aconselhar sem ser a maior seguidora do meu conselho.
Sendo portuguesa, é difícil ver a calar, está-me no sangue... Contudo, tento que quando falo as minhas palavras sejam legítimas. A legitimidade tem a ver com a autenticidade. Se tenho conselhos para dar, que seja a mim mesma. Tenho de ter a capacidade de viver de acordo com aquilo que digo.
Tenho, com o tempo, aprendido a observar e a falar menos. Contudo, quando me foge a boca que seja para a verdade. Vivo de acordo com os meus valores e lições aprendidas com a minha experiência. Aconselhem-se e sejam legítimos. Sejam legítimos e sejam felizes, sempre!

Adelaide Miranda, 25/05/2018


quinta-feira, 24 de maio de 2018

Os piores momentos são oportunidades de aprendizagem. Sejam felizes, Sempre!

Ontem, em dia de apresentação do livro do André Sousa, "Quem ama não esquece", o André disse algo que me relembrou da natureza humana: o foco que temos nas coisas menos boas em detrimento das coisas boas.
Somos abençoados com tanta coisa, mas temos a tendência de manter o foco no que de menos bom temos, talvez porque doa e a dor marca.
A dor deixa cicatrizes fincadas no nosso coração e, por vezes, na nossa pele. Cicatrizes que temos tendência de ver como uma lembrança da dor... O erro é esse. As cicatrizes devem ser lembranças de aprendizagem, de superação!
Desculpem dizer-vos, mas na minha opinião somos abençoados com coisas menos boas. As coisas menos boas são as que nos permitem crescer e aprender. Temos de parar, sentir, e chorar, se for preciso, mas analisar. Analisar para perceber qual a lição que devemos tirar da situação. Devemos abençoar as coisas menos boas porque nos permitem crescimento.
Indo mais longe, na minha opinião, as coisas mais boas são formas que Deus tem de falar connosco. É a forma que ele tem de nos fazer analisar e por vezes mudar de caminho. Isto porque só a dor nos alerta, e se não houver dor não há aprendizagem ou paragem....
E concordo, existem coisas menos boas que nos doem e dilaceram a alma. Eu sei... Eu sei o que isso é... A dor de perder uma irmã, jovem, marca-me profundamente e carrego essa cicatriz na alma e na pele. Contudo, dessa dor surgiu um sobrinho que se tornou num filho. Perdi uma irmã e ganhei um filho. Ganhei maturidade. Na altura, forcei-me a terminar o curso porque sabia que as responsabilidades iriam, um dia, recair sobre mim. Uma lição pesada mas valiosa, que não me permite desistir, que dá-me força para continuar nos momentos mais complicados.
 O preço a pagar por essa lição foi alto demais para não aprender com ela.
Apreciem os bons momentos, mas apreciem com mais atenção os momentos menos bons. São que nos fazem crescer e enaltecer a alma.
Por isso, todos os dias agradeço por todos os momentos que vivi na minha vida porque todos eles permitiram que eu crescesse e amadurecesse.
Grata, meu Deus, por tudo o que me deste, o que me darás hoje e trarás amanhã. E só te peço que eu tenha a capacidade de aprender com todos eles e crescer como TU tens planeado para mim.
Os momentos menos bons, não são os piores, são os melhores porque eles nos fazem crescer e chegar mais perto do objetivo final: sermos verdadeiramente felizes, plenos e agradecidos.
Sejam felizes, sempre!

Adelaide Miranda, 24/05/2018




segunda-feira, 21 de maio de 2018

Só com amor vale a pena. Sejam felizes, sempre!

Estive presente no aniversário da minha irmã, em que o meu cunhado pediu-a em casamento. Foi  emocionante, decidiram casar a 18 de Maio de 2019 com toda a pompa e circunstância, pela igreja, e numa quinta paradisíaca no Porto, em Portugal.
Porém, há sensivelmente três semanas atrás, a minha irmã comentou que decidiram casar mais cedo no civil e que, para não terem várias datas de aniversário de casamento, optaram por 18 de Maio de 2018 para o fazer. Não comentou com ninguém porque como já tinham feito os convites para dia 18 de Maio do ano seguinte, não fazia sentido....
Não fazia sentido? Efetivamente, para mim, o seu estado civil iria alterar-se no momento em que se casasse no civil. O meu pai e os familiares mais próximos foram da mesma opinião que eu e rapidamente nos apressamos a comprar bilhetes para ir ao Porto assistir à cerimónia civil.
Acontece que, nunca estive presente num casamento tão bonito. Preparado sem pompa e circunstância, tornou-se numa festa maravilhosa onde se celebrou o amor. Esteve presente quem achou que devia estar e que queria presenciar a união de ambos. A cerimónia civil foi lindíssima, com direito a poesia e textos bíblicos. Na sala de registo encheu-se a atmosfera de amor e de boa disposição. Para minha surpresa o meu cunhado adotou o nome de família da esposa para que os filhos e os pais tivessem todos o mesmo apelido: Miranda Borges.
Confesso que engoli em seco e contive-me para não chorar. Tenho a certeza que se o fizesse não iria conseguir parar...
Fomos almoçar num restaurante ao lado do registo, à última hora reservado pela mãe do noivo, e experienciei magia. Na pequena sala do restaurante transbordou o amor. Nunca me senti de coração tão cheio. Naquela sala, estava verdadeiramente uma família unida pelo amor. Não éramos a família da Sara e a família do Henrique. Éramos apenas uma família. Estávamos unidos pelo mesmo amor e convivemos como se já nos conhecêssemos há mais de 30 anos. Os donos do restaurante celebraram connosco e até direito tivemos a concerto no piano. Celebrámos o amor da melhor forma possível: em união.
Um casamento preparado à pressão, sem pompa e circunstância... Um casamento em que o amor encheu a sala e o coração de todos presentes. Um casamento que me fez pensar no que realmente importa no casamento. O casamento não se trata de festas de arromba e quintas maravilhosas... Seja como for celebrado, numa quinta ou numa pequena sala, ou até mesmo à beira-mar, o melhor do casamento é o amor. O motivo pelo qual duas pessoas se unem: a vontade expressa de se tornarem um só e passar o resto dos seus dias fazendo o outro feliz.
Efetivamente foi isso que experienciei no casamento Miranda Borges: o amor na sua mais linda forma espiritual e física.
A vós, meu cunhado e minha irmã, desejo que sejam felizes para sempre e que todos os dias da vossa vida se lembrem do motivo pelo qual nos unimos todos naquela sala. Agradeço-vos por me permitirem fazer parte de um dos momentos mais bonitos da minha vida.
A vós, peço-vos que lembrem-se sempre que só com amor vale a pena. Sejam felizes, sempre!

À Sara e ao Henrique! Sejam Felizes!

Adelaide Miranda, 22/05/2018


A vida é só uma e nenhum dia se repete. Sejam felizes

Na corrida do dia-a-dia, esquecemos de viver. É incrível como não paramos para a apreciar a natureza que nos rodeia, as pessoas que nos rodeiam...
Temos uma lista de tarefas para cumprir e passamos o dia em modo robot a percorrer a lista como se não houvesse amanhã. Terminamos estafados com mais de metade das tarefas por fazer e acrescentamos à lista do dia seguinte. E a lista aumenta, as tarefas multiplicam-se exponencialmente, e nunca temos tempo para viver. Corremos tanto e dizemos que estamos ocupados a viver, mas efetivamente estamos ocupados a deixar o tempo passar.
Estamos presos no ciclo da sociedade em busca de um padrão idealizado sem alguma praticalidade.
No outro dia, reparei num cão, deitado à beira da estrada, a dormitar debaixo do sol e senti inveja. Quis deitar-me ao lado dele sentindo o sol a banhar-me a pele. O cão, que chamamos rafeiro, tem todo o tempo do mundo para aproveitar o que é realmente de valor. Na realidade, o melhor da vida não tem preço.
Tentem parar um pouco durante o dia. Apreciem o que de mais belo a natureza nos oferece. Sentem-se, ao entardecer, a apreciar o por-do-sol, ou deitem-se de papo para o ar como o meu amigo cão rafeiro.  A vida é só uma e nenhum dia se repete... Apreciem o que realmente não tem preço e sejam felizes!

Adelaide Miranda, 22/05/2018

Foto por Pedro Ferreira

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Ser mãe é o desafio mais gratificante

Pela primeira vez na vida, Deborah, demorou a responder.
Não sabia o que dizer... Por fim, disse que ser mãe era efetivamente a tarefa mais complicada que tinha na vida. Como engenheira, Deborah, sabia a fórmula para solucionar problemas. Como mãe, Deborah, tinha dificuldade em saber qual a melhor forma de agir.
Ficava sempre a dúvida se era branda demais ou rígida demais. Ficava sempre a dúvida se mimava demais...
Em engenharia existem fórmulas, métodos, protocolos, livros de texto com toda a informação necessária para chegar-se a uma decisão baseada em fatos. Ou seja, todas as decisões eram justificáveis.
Como mãe, em situações de conflito, as decisões eram dificeis de justificar. Por vezes, era difícil saber o que fazer, como agir...
Como superou essa dificuldade? O entrevistador perguntou uma vez mais. Deborah, sorriu e explicou que não a superou porque seria mãe para sempre. Supera todos os dias e a única fórmula que a guia é efetivamente o amor. Ser mãe é efetivamente a tarefa mais complicada, mas decididamente a melhor do mundo, a mais gratificante, a mais valiosa... Os desafios supera sempre com o amor incondicional que é característico de um amor como este...
Afinal, a pergunta não era tão difícil assim.

Adelaide Miranda, 18/05/2018

quarta-feira, 16 de maio de 2018

A dona da razão e a sua solidão.

Deborah, tinha a mania que sabia de tudo. Raramente tinha paciência para ouvir os outros.
Achava-se a dona da razão. Escutar, simplesmente, não estava no seu dicionário.
Com o passar da vida, Deborah, foi ficando cada vez mais isolada, mais sozinha. Encontrou-se na companhia da sua razão. Tomava o pequeno almoço com a sua razão, conversava com a sua razão, trabalhava com a sua razão e deitava-se com a sua razão.
Sentia-se triste com a sua razão, até porque não havia ninguém para a desafiar. Não haviam desafios nem conversas. Deborah, tinha a sabedoria com ela e não se sentia feliz.
Um dia, sentou-se à mesa com os outros e deixou a sua razão de lado. Não proferiu uma palavra. Quem a conhecia estranhou tal facto, era raro Deborah não deixar a sua razão falar.
Nesse dia, apenas deitou-se com a sua razão, não passou o dia com ela. E o dia, afinal de contas, até correu bem.
Passou a pedir à sua razão para escutar a razão dos outros. Afinal, ter razão e não ter com quem a partilhar não fazia muito sentido.
A razão obedeceu e, Deborah, reparou que afinal não sabia tudo. Nos últimos meses tinha aprendido coisas valiosas. Tomava o pequeno almoço com os amigos, sim, encontrou amigos, escutava os amigos, trabalhava com os amigos e deitava-se com a sua razão.
Deborah, nesses dias, sentiu uma leveza que a acompanhava. Ter sempre razão era, afinal, um fardo muito grande de carregar. Deborah, estava leve e feliz. Supreendeu-se quando a dada altura, enquanto escutava os amigos, estes perguntaram a sua opinião. Gostavam de ouvir falar a sua razão. Deborah, pensou cuidadosamente e deu a sua opinião com base no que tinha ouvido nos últimos tempos. Todos ouviram calados e assentiram com agrado. Deborah tinha razão, concordaram com ela. As conversas entre amigos continuaram e, Deborah, trazia a sua razão com ela, escutava atentamente, e apenas a permitia falar quando parecesse oportuno ou quando a questionassem. Afinal, ter razão e ter com quem a partilhar fazia todo o sentido.
Deborah, deixou de ter a mania que sabia de tudo. Raramente tinha paciência para falar sem motivo aparente para o fazer. Deborah, aprendeu a viver com a sua razão e a razão dos outros. Deborah, nunca mais se sentiu sozinha. Deborah, sentiu-se mais leve e feliz. Era tão bom ter algo para partilhar com os outros!
Deborah, deixou de ter sempre razão e passou a ser mais feliz. E assim, terminou os seus dias.
Adelaide Miranda, 17/05/2018


Sejam genuínos e sejam felizes!

O segredo da felicidade é nunca deixarmos de ser quem somos.
Temos a tendência para assumir um "papel" perante a sociedade. Papel esse que pensamos ser indispensável para que possamos ser aceites ou para que as pessoas gostem de nós.
A realidade é que se temos de usar máscaras para que alguém goste de nós significa que não estamos perante as pessoas certas. Não é a nossa personalidade que está errada, mas sim o "grupo" onde estamos inseridos. Se temos de "adaptar" quem somos significa que estamos a forçar a nossa presença num local onde não pertencemos.
E essa mudança, vestir constantemente a personagem que criamos, apenas nos deixa cada vez mais infelizes. Cada vez mais perdemos a nossa essência e nós próprios deixamos de gostar de quem somos. Não nos identificamos com o "papel" que criamos e passamos a destestar a imagem que vemos no espelho.
Pois é... O segredo da felicidade é sermos genuínos. Quando somos genuínos não precisamos de atalhos e subterfúgios perante pessoas genuínas. Quando somos genuínos o sorriso é aberto, o positivismo e o bem estar perdomina. Quando somos genuínos somos verdadeiramente felizes.
Sem darmos conta rodeamo-nos de pessoas tão genuínas quanto nós e encontramos o grupo que nos aceita por quem somos. Vivemos livres sem máscaras. Vivemos até mais saudáveis pois o sorriso é o antídoto para a doença.
Por isso, nunca deixem de ser quem são. Sejam genuínos e nunca estarão sós. Existirá sempre a pessoa do outro lado do espelho que vos ama, que sorri com a vossa presença.
Sejam genuínos em todas as situações no vosso dia-a-dia. Aceitem as vossas qualidades e os vossos defeitos. Apenas aceitando quem somos podemos melhorar o que há para melhorar e valorizar o que há para valorizar.
Sejam genuínos e sejam felizes. Não há outra fórmula para a felicidade!

Adelaide Miranda, 16/05/2018

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Deixem a Alma viver!

Tentaram calar a minha vocação matando o meu sonho.
Desde cedo tentaram moldar a minha pessoa aos olhos da sociedade, para ficar bonita no quadro ou ao menos pertencer ao mesmo.
Tantas foram as vezes que eu ouvi dizer que canto bem mas não o suficiente para ser uma cantora que conseguisse "pagar as contas" só com a música.
Tantas foram as vezes que ouvi dizer que escrevo bem mas não o suficiente para ganhar a vida com a minha escrita.
Tantas foram as vezes que ouvi dizer que com o meu feitio nunca teria pessoas à minha volta que quisessem trabalhar comigo...
Tantas, mas tantas foram as vezes que tentaram matar quem realmente sou e em parte conseguiram.
Por longos anos conseguiram matar a minha essência, mas a alma é mais forte. A alma transborda de paixão e a paixão não morre. A paixão liberta-se, mais cedo ou mais tarde.
Que se calem as vozes da discórdia e do medo. Que se calem, por favor.
Faço aquilo que gosto porque só assim me sinto viva! A nossa vocação é a força que sustenta a nossa alma. Não permitam que a deixem morrer, sem alma não há vida.
Façam aquilo que gostam, pelo prazer de gostar de fazer, e sejam felizes! 

Adelaide Miranda, 15/05/2018

Coração Gelado

Acordei no frio, esta manhã.
Gelei na cama fria devido à tua ausência. 
Não me quis levantar...
Deixei-me estar gelada à espera...
Lá fora, a vida deixou de ter interesse.
De que me interessa viver, gelada, sem ti,
Com o coração em gelo e hirto,
sem vontade de bater?

Adelaide Miranda, 14/05/2018


domingo, 13 de maio de 2018

Ouçam e sejam felizes!

Temos uma tendência nata para falar e não ouvir.
Falamos pelos cotovelos e não paramos nem sequer para ouvir o que nós próprios temos a falar.
O pior é que falamos por falar... Não nos damos ao trabalho de pensar duas vezes antes de atirar cá para fora as palavras que rolam nas nossas bocas.
Uma tendência nata e perigosa.
Há coisas que não devem ser faladas. Há coisas que depois de faladas não conseguimos que voltem atrás. É perigoso falar por falar.
Com o tempo, tenho aprendido a ouvir. Passo mais tempo a ouvir os outros do que própriamente a falar. Ouço com atenção. Tenho aprendido muito mais agora que não tenho o som da minha própria voz como ruído de fundo...
E consequentemente tenho sido mais feliz. Tenho a vida mais cheia com a experiência e sabedoria que absorvo dos outros. 
É bom ouvir. Guardem as palavras para a altura certa, depois de bem pensadas.
Ouçam... Ouçam, aprendam e absorvam.
Sejam felizes, sempre!

Adelaide Miranda, 13/05/2018


sábado, 12 de maio de 2018

Desligada do mundo

Não lhe apetecia fazer nada...
Deborah, deitou-se na cama com uma caixa de chocolates e o comando do Netflix.
Devorou filme atrás de filme, na tentativa de impedir o seu cérebro de pensar.
Porém, os próprios filmes levavam-na de volta aos braços de David.
Ela bem sabia que aqueles braços não lhe faziam bem, mas não conseguia resistir.
Pareciam droga... Tentava resistir à tentação, mas a sensação no momento de entrega era impossível de replicar...
Derretia-se nos braços tatuados e perdia-se nos caminhos da sua boca experiente...
Tinha que arranjar forma de se libertar, contudo neste momento só queria um momento de paz. Só queria um momento sem que ele invadisse o seu pensamento e a fizesse agonizar de saudades.
Voltou a sua atenção para o ecrã, no exato momento que o Hugh Grant beijava a Julia Roberts no filme Notting Hill. Imediatamente viajou para os braços de David...
Que palhaçada... Tentar não pensar nele enquanto via filmes românticos.
Ás vezes ela fazia com cada uma...

Adelaide Miranda 12/05/2018


Se tu não Estiveres aqui

Sara Ana Macedo Afonso
Vanessa Lourenço
Fábio Pinto
Ana Pinto Afonso
Ana Ribeiro
Fábio Serqueira
Adelaide Miranda
Débora Macedo Afonso

Fevereiro 2016





Se Tu Não Estiveres Aqui
Se Tu Não Estiveres Aqui

Enquanto procurava uns papéis nas gavetas do escritório, esses papéis chatos que todos os adultos têm que preencher e que têm de ter em ordem, Lara decidiu que era o momento certo para arrumar toda aquela confusão.
Tirou as gavetas todas da secretária e depositou-as pelo chão. Sentou-se na sua cadeira preferida lá de casa: uma poltrona enorme, grande, com uns estampados cheios de cor, encostada à enorme janela que ilumina o escritório. Primeiro procurou pelos papéis que eram mais importantes, os tais papéis... Assim que deu com eles colocou-os de parte e continuou naquela arrumação que lhe parecia interminável. Apercebeu-se que dentro daqueles seis pedaços de madeira, em forma retangular, estava muito do que era a sua vida. Acabou por rir de si mesma:
- Tenho 35 anos e a minha vida cabe em seis gavetas de uma secretária. - Pensou para si. Teria feito assim tão pouco? Sim, ainda tinha muito pela frente, mas de repente surgiu aquela sensação que havia algo que lhe estava a escapar. Encontrou mais papéis, e algumas lembranças da escola: cartas das amigas, coleções de porta-chaves e de isqueiros, e claro, álbuns de fotografias. Alguns desses álbuns eram da casa dos seus pais, que ela “roubou” para os ter mais perto de si. Neles podem-se encontrar fotos de família, de quando era bebé, dos seus pais ainda jovens, das suas aventuras nas férias e as típicas fotografias da escola. Deu por si, a encolher-se na poltrona, comovida enquanto esfolheava aqueles álbuns. Tantas pessoas que já tinham passado na sua vida, muitas delas já nem se lembrava dos seus nomes, outras seriam sempre insubstituíveis. Ainda guarda amigas do tempo da primária, e outros ainda a acompanham nesta nova etapa da sua vida. Mas a maior parte deles, se os visse na rua não os reconheceria. E eles? Ainda saberiam quem era? Será que os marcou de maneira diferente, que eles a si? Mergulhada naqueles pensamentos, nem viu as horas passarem, e folheou mais um álbum quando deu de caras com uma foto de um rapaz alto, de olhar intenso, cabelo acastanhado a combinar com o seu tom de pele dourado, sorriso largo, de calções de praia, com o pôr-do-sol ao fundo, olhava para a câmara com um braço levantado como que a chamá-la. Ficou presa naquele olhar, automaticamente, sorriu, lembrando-se daquele dia, lembrando daquele rapaz: o Tristão.
Não foi assim há tanto tempo, e no entanto parece que passou uma vida inteira desde a última vez que o viu. Olhou para lá da janela do escritório e a vista da cidade assombrou-a mas o seu olhar foi mais além, para lá da paisagem, para lá do horizonte, para lá do tempo… E regressou ao dia em que o Tristão entrou na sua vida e a transformou para sempre.
Naquele ano, quando completou os seus 16 anos, estavam em pleno Outono, as aulas tinham começado há poucos dias, e sentia-se no ar aquele reboliço e agitação próprio do regresso.
Lara era a típica miúda atinada e responsável que só pensava nos estudos, em acabar depressa o secundário para sair daquele lugar e começar a sua vida. Relembrando aquele tempo Lara deu com ela a ter pena de si mesma por tantas vezes ter sido idiota e ter desperdiçado tantas aventuras, tantos momentos, tanta vida… Mas estava prestes a haver uma grande mudança na sua vida, e sim por causa de um rapaz. Parece cliché, ela sabia, mas o Tristão foi realmente o grande momento da sua vida.
A primeira vez que o viu, encontrava-se na biblioteca da escola, já tinha passado uma semana desde o início das aulas, e Lara andava à procura das obras literárias que iam estudar naquele ano. A biblioteca era o seu lugar preferido da escola, as suas amigas tinham ficado no bufete, e só o Eduardo, seu melhor amigo, tinha ido com ela, mas acabou por ficar no cantinho dos computadores, logo na entrada. Lara embrenhou-se pelas estantes e corredores da biblioteca, apreciando aquele momento de estar no meio de tanto talento, de tanta história, de tanta vida… Começou à procura do livro em questão e de repente sentiu-se como que a ser observada, mas não deu muita importância e continuou no seu mundo. Contudo, no momento em que tirou o livro “Pedro e Inês” da estante, os seus olhos prenderam-se aos dele, separados por uma estante cheia, as suas vidas encontraram-se naquele vazio que o livro deixou, e foi como se o tempo tivesse parado, como se o mundo não mais girasse e tudo à volta deles ficasse em câmara lenta. Ele sorriu primeiro e Lara correspondeu sem sequer se aperceber, timidamente, acabaram por desprender o olhar, ele virou as costas e saiu dali. Lara ficou ali, ainda alguns instantes quieta, de olhar distante, e com apenas uma certeza: aquele momento iria mudar a sua vida…
E foi assim que deu consigo, sorrindo sentada na sua poltrona colorida e acabada de regressar de um devaneio do passado que tinha trazido de volta recordações tão marcantes e tão capazes de fazer regressar ao seu coração as borboletas da sua adolescência. Á sua volta os álbuns de fotografias e toda aquela papelada fizeram-na pensar... Em que momento é que o percurso que ela acreditava com tanta intensidade que lhe traria a vida dos seus sonhos se tinha tornado numa existência tão banal? Pensou que se as pessoas pudessem identificar o momento em que cada um desiste de perseguir os seus sonhos de juventude e direcciona todos os recursos para corresponder ao lugar que a sociedade exige que ocupe, algo pudesse mudar. Talvez tivesse sido diferente... Talvez ainda estivessem juntos.
Aquele último pensamento arrepiou-a. Não fazia ideia que uma simples fotografia pudesse trazer de volta mágoas tão antigas, esperava que depois de todos estes anos nada mais restasse do que a memória agradável dos momentos felizes. E no entanto, forçou-se a levantar.
Já chega de tontices.
De volta ao presente que podia não ser a vida dos seus sonhos de menina, mas que lhe permitia ser independente e pagar as suas próprias contas, tentou abafar as recordações de Tristão com pensamentos práticos, organizar toda aquela papelada não iria ser fácil e ainda tinha que sair para comprar algo para jantar. “Algo saudável”, forçou-se a acrescentar. Nos últimos tempos o stress do dia-a-dia e o pouquíssimo tempo livre tinham levado a que se descuidasse e o seu corpo começava a ressentir-se. Como tal, prometeu esforçar-se para comer melhor.
Quando terminou de organizar os papéis, pensou como seria bom poder enroscar-se no sofá com um bom livro e não pensar em mais nada, o resto da tarde. Mas tinha mesmo que sair para fazer as compras, e uma rápida olhadela pela janela trouxe-lhe a imagem de uma tarde solarenga daquelas que convida a sair de casa e arejar as ideias. Não que precisasse... Ou precisava? As memórias de Tristão continuavam a forçar caminho na sua mente e estava na altura de colocá-las de uma vez por todas no lugar de onde nunca deviam ter saído: o seu passado. Vestiu o casaco, procurou as chaves de casa, dentro da mala, e saiu.
Já dentro do carro e a caminho do supermercado, ocorreu-lhe que a realidade de todos os dias se podia muito bem aproximar da dos filmes de vez em quando. Se assim fosse, não tardaria a cruzar-se com um Tristão mais adulto talvez já sem aquelas madeixas rebeldes ou as t-shirts justas tão características de quem tem um corpo bonito e gosta de o mostrar, mas ainda assim seria o Tristão, e reconhecê-lo-ia imediatamente. E claro que também ele a reconheceria desde logo. Quem sabe junto da secção da fruta ou dos legumes do supermercado? Não imaginava que ele se pudesse desleixar como ela se tinha desleixado com a sua silhueta e seria aí o lugar mais provável para encontrá-lo.
Uma buzinadela tremenda e tudo o que teve tempo de fazer foi guinar o volante para a direita, para evitarmos o impacto. No meio do seu final feliz inventado, Lara passou um sinal vermelho e por pouco evitou o pior. Depois de recuperar do susto, ouvir alguns impropérios e pedir muitas desculpas ao condutor do outro carro, decidiu com firmeza que tinha que voltar a ter controlo dos seus pensamentos e das suas emoções. Tristão tinha deixado de fazer parte da sua vida há muito tempo, não fazia sequer ideia de por onde andaria naquele momento e era uma parvoíce fantasiar sobre um possível reencontro com ele. Respirou fundo, e concentrou-se o resto do caminho até ao supermercado a rever uma e outra vez a lista de mantimentos que tinha que comprar.
Por mais que ela quisesse e tentasse cair na realidade, não conseguia. Tristão estava-lhe presente no pensamento a toda hora em todos os instantes. Estacionou o carro, desligou, respirou fundo, para se acalmar, tirou a chaves, saiu, trancou-o e foi buscar um carrinho, não que fosse comprar muita coisa, mas podia haver uma promoção que lhe agradasse, ou talvez se lembrasse de alguma coisa há última da hora lá para casa, como era habitual.
Foi directa à secção dos legumes e frutas, mesmo sabendo que não é a primeira secção a que devemos ir, pois pode ficar tudo amassado, porém é hábito, desde que se lembra de fazer compras, é sempre por aqui que começa. Tanto ela, como a maior partem das pessoas. 
Enquanto deixou o carrinho encostado para ir buscar um saco para colocar meia dúzia de maçãs, viu alguém a tentar levá-lo e intervir.
– Desculpe mas esse carrinho é meu. – Disse ao senhor que estava de costas para si.
– Desculpa foi sem intenção. – E virou-se... – Lara, és tu? Como estás? – E agarrou-a dando-lhe dois beijos nas maçãs do rosto.
É ele, o Tristão... " Cheira tão bem ". Não pode ser. Não pode. Pensou, enquanto olhava estupefacta. Este destino matreiro.
– Eu, eu... - Teimavam em não sair as palavras, estavam como que entaladas, presas... – Não estava à espera de te encontrar. Ao fim de tanto tempo. Aqui assim, no supermercado. Que coincidência. - Disse-lhe por fim, após batalhar consigo mesma para conseguir falar. 
– Continuas igual. O teu sorriso, continua igual: doce e sereno. - Elogiou ele, tal como costumava fazer no tempo de escola.
– Tu... Tu... - Outra vez a guerra das palavras. Respira. Concentra-te no que vais dizer. Respira. – Tu estás muito bem também. - Disse-lhe nervosa.
Fez-se silêncio, e naquele instante os dois olhares cruzaram-se, como que se estivessem perdidos, como que se há muito se procurassem, mas sem sucesso até então. A vontade de dizer-lhe tudo o que queria dizer tempos atrás era enorme, mas as palavras consumiam-na, era como se quando as fosse dizer, as palavras a fizessem tropeçar e ficar em silêncio, era como que... Sei lá. Queria dizê-las, mas não conseguia.
- Não digas mais nada e beija-me. Cola a tua boca na minha e não descoles... Abraça-me nesse teu olhar e leva-me contigo nessa aventura, partilhemos não só os corpos, mas sim as almas. - Pensou para si sem as conseguir proferir.
Queria poder dizer-lhe que ele é o amor da sua vida, mas, não podia. Não sabia nada sobre ele. Agora era como que se fosse um desconhecido que estava a conhecer neste preciso momento.
Raios de vida. Raios de destino, raios tudo. - Pensou num misto de nervosismo, ansiedade e raiva.
– Dás-me o teu número de telefone? - Perguntou ele, arrastando-a de volta à realidade, nua e crua, em que eram apenas a Lara e o Tristão dois amigos de escola que se reencontram por acaso no supermercado. 
– Sim, claro. - Respondeu-lhe, sobre o seu olhar ainda distante, enquanto procurava o cartão que tinha na mala com todos os seus contactos.
– Marcamos um café? Para relembrar velhos tempos e pormos a conversa em dia. Já lá vão uns anitos. – Continuou enquanto se despedia de Lara com um sorriso meigo e dócil.
Lara limitou-se apenas a acenar com a cabeça de forma positiva, enquanto o via ir-se embora dali.
Saíu imediatamente dali a correr, não queria correr o risco de encontrar-se com ele novamente. 
As compras afinal não eram assim tão importantes e haveria bastante tempo para fazê-las. 
Foi para o carro ainda meio atordoada com o encontro inesperado, e nem pensou, foi logo para casa. 
À entrada de casa enquanto procurava a chave para abrir a porta, sentiu o telemóvel a vibrar, também ele perdido dentro da mala.
Encontrou a chave, abriu a porta e foi a correr até à cozinha. Tirou a mala do ombro e despejou o seu conteúdo sobre a mesa, lá estava ele, o seu telemóvel, seu malandro.
Tinha as mãos a tremer, sabia que tinha uma mensagem e tinha a certeza que era dele, do Tristão. Sim era dele. 
“Quero voltar a ver-te, continuas igual, quero saber de ti, de tudo. Lembras-te do nosso café nos tempos de escola? Aquele para onde íamos sempre? Espero poder ver-te lá amanhã por volta das 17h. Tristão ".
 “Raios, que vou eu vestir? E se não conseguir falar outra vez? E se começar a meter os pés pelas mãos, ou as mãos pelos pés, ou seja lá o que for que isso quer dizer ou como se diz... O que pensará ele de mim?”, Pensou Lara enquanto se tentava acalmar.
“Respira Lara”, dizia a sua consciência em altos berros.
Respirou fundo, recompôs-se, foi até à sua poltrona e sentou-se como que se tivesse caído do cansaço.
Olhava em vão, para todas as paredes da casa, queria que o dia de hoje acabasse, queria o amanhã e rápido, queria as 17h de amanhã. Queria...
Não se lembrava de mais nada, a não ser pensar em querer adormecer...
  Adormecer? Esta é boa... Conhecendo-se como se conhecia seria missão impossível. Tinha a plena certeza que não pregaria olho toda a noite, era sempre assim quando ficava ansiosa por algo. E ainda restava passar aquela tarde, mais a manhã do dia a seguir. E como passar o tempo? Como fazer, para os minutos não parecerem horas? Sempre foi assim toda alterada.
E o que queria, queria já... Não valia a pena, Lara era impaciente por nascimento. Uffff… De frente a esse armário abarrotado de roupa e calçado era sempre a mesma lengalenga, o que ía vestir?
- Este vestido? Na… na…. Não tenho sapatos de jeito. Assim, com cada peça que me vem à cabeça, nunca nada combina com nada. Larinha, Larinha! Esquece! Improvisa sobre a marcha! Mulher que já tens 35… - Disse para si.
- 35, 35 anos Meu Deus!- Já tinha 35 anos e nem se lembrava de como o tempo tinha passado.
Deu-lhe para naquele mesmo momento reparar no espelho do armário.
- Ei lá! Quanta branca! E tu preocupada com a roupa! O tempo não pára! E o que ele voa acaba de se reparar no meu cabelo. Sempre tive cabelo comprido e sempre tive muito cuidado com ele, e para que é que me vou enganar? Sempre fui assim um bocadinho vaidosa! - Exclamou para si mesma. Mas agora, frente àquele espelho ficou realmente chocada, é como se tivesse voltado aos 16 anos por momentos, desde que encontrou a fotografia até que o encontrou no supermercado.
- Não pah, não te atormentes rapariga, o tempo passou para ambos! - Disse. - E até para já ele disse que eu não tinha mudado nada! E pode ser que não porque ele reconheceu-me de imediato... Então porquê estas ideias tão malucas à minha cabeça? Realmente! Ele sim estava guapíssimo! Como diria a minha avó que era espanhola. Mas guapíssimo de verdade! Pronto estava um gato mesmo, meu Deus! E deixou crescer a barba e fica-lhe tão bem! Essa barba espartana de dias. - Continuava a falar consigo mesma para acalmar os nervos que teimavam em não a deixar.
Lara pensou como a barba lhe dava um ar assim tão charmoso que o tornava mesmo muito atraente. Ele ganhou com os anos. Sim, e agora como seria a sua vida? Estaria casado e teria filhos? Será que vivia aqui na cidade? Duvidava, nunca o tinha visto depois de anos, era mesmo uma casualidade encontrar a fotografia e encontrá-lo em poucas horas. Ela também queria saber dele. Queria saber tudo, sentia tanta curiosidade. E porquê? Porque é que a vida os tinha separado? Talvez lhe exigissem muito em casa. Tristão era filho único e vinha de uma família humilde, de uma pacata aldeia. Os pais vieram à cidade em busca de um futuro para o filho como é lógico, uns estudos. Sim era isso que a família queria para ele: que ele fosse médico, advogado, sabia lá! Lara lembrava-se de que ele aspirava alto, era muito inteligente e chegaria longe, disso ela nunca tivera dúvidas. Pronto, talvez ele até tivesse tirado o seu curso no estrangeiro ou vá-se lá saber onde. Ou se calhar nem sequer estudou... Se calhar até teve de emigrar e foi ao estrangeiro para trabalhar. Raios! Tantas perguntas ocupavam a sua cabeça. Se continuasse assim até amanhã, ficaria com enxaqueca de certeza!
- Por amor de Deus que passe já o tempo! - Exclamou ansiosa. Como era óbvio a noite foi assim passada entre valerianas e vagos intentos de ler, mas parece que tudo era impossível mesmo. Apesar do cansaço lá conseguiu dormir qualquer coisa, mas nada de jeito tanto é que ficou assustada ao ver o seu rosto no espelho ao acordar. Santo Deus que olheiras! Lá teve de ser e teve de se levantar. Tratou das coisas rotineiras e lá conseguiu queimar a manhã e de que maneira. Para começar e para não variar teve de cuidar da sua sobrinha, e logo nesse dia em que não estava com paciência para aturar ninguém. Só queria o Tristão...
- Hoje não é um bom dia mana, para ficar com a menina. Digo-te a verdade.
- Estás francamente rara. - Respondeu a irmã.
-  Ok. Não é nada trás a menina e ponto.
Ficou com a sobrinha e acabou por agradecer porque o tempo demorou menos a passar.
 E finalmente chegou a hora de se vestir, para ir ao encontro de Tristão. Um duche assim rápido, o cabelo solto, uma base de maquilhagem e um creme para as olheiras, uma vez que estava realmente de rastos com aquela noite de insónia. Enfiou umas calças jeans e uma túnica às flores... Umas botas tipo do oeste por cima das calças e estava pronta...
- Sempre acabo por fazer o mesmo! Não adianta, o que eu gosto mesmo é de sentir-me cómoda com o que visto para quê complicar? - Pensou Lara enquanto se preparava. Com o passar dos anos, parece que neste aspecto tinha aprendido a descomplicar com estes temas da roupa e tal. À medida que se aproximava a hora do encontro Lara sentia assim uma necessidade tão grande de abraçá-lo, de se fundir a ele num abraço bem apertado. Agora que recordava, tinha sonhado com isso a noite anterior, o pouco que dormiu sonhou com ele. O seu coração batia bem acelerado, chegou ao café onde passaram momentos da sua juventude, onde se sentavam no lugar de sempre e a mesa era testemunha do brincar das suas mãos e, sim até que lá chegou passaram-lhe pela cabeça mil... Uiii mil! Muitos mais reflexos da história que tinham partilhado desde os 16 anos. Caminhava assim à pressa e mesmo que pareça mentira apesar de ser assim muito acelerada, chegava sempre tarde. Tanto é que ele já tinha enviado uma mensagem dizendo: Onde estás Lara? E quando ia a responder, levantou o olhar e retirou os seus óculos de sol: uns óculos Ray Ban velhos que deviam ter uns 10 anos, mas eram os clássicos que com o passar do tempo nunca saiam de moda. Lá estava ele encostado à esquina do café com a perna cruzada e o telemóvel na mão.
- Tristão...- Disse. Lara queria ter gritado, mas não lhe saiu e voltou a dizer - Tristão!
E nos poucos passos que os separavam Lara correu para ele com os braços abertos. E sim enlaçaram-se num abraço, e embora Lara quisesse negar que estava emocionada não se conseguiu conter e chorou de emoção. Não era nada do outro mundo pois Lara era assim tremendamente emocional. Quer dizer, desde que se conhecia que chorava por tudo e por nada. Mas aquelas lágrimas eram de alegria. Tristão também estava emocionado. Calmamente sugeriu que em vez de irem tomar um café ou uma cerveja, talvez fosse melhor irem dar uma voltinha.
- Tenho ali o carro, vamos?
- Sim, claro. Vamos.
Deram umas voltas pela cidade e foram parar a um parque a uns quilómetros da cidade e sem saberem como perderam-se num apaixonado beijo. O que lhe ocorreu dizer depois de se beijarem foi:
- Beijos... Beijos não... Por favor – Mas não conseguia proferir as palavras.
- Estás linda Lara, muito mais linda do que na escola, estás preciosa! - Foi o que ele respondeu naquela loucura de beijos.
- Beijos... Beijos não... Beijos não... – Continuava a dizer para si sabendo que não ia conseguir parar por ali.
Para Lara perder-se no seu olhar, em suas mãos e nos seus braços era a única coisa em que conseguia pensar e queria fazer. Ela que tinha tantas perguntas, mas, de repente, esqueceu-se tudo. Só voltou à realidade quando ele sem querer deixou cair a carteira e deu para ver a fotografia de uma espetacular mulher loira de olhos azuis e por toda a pinta não era portuguesa... E é. Claro que em Portugal há loiras lindíssimas, mas aquela era, devia ser sueca ou norueguesa ou sei lá...
- Quem é ela?
- É a minha esposa... Mas pronto... É assim uma longa história...
Lara disse que tinham todo o tempo do mundo e sorriu de seguida, Tristão propôs que fossem até à praia. Que se sentassem na areia conversando um pouco, e Lara concordou com a ideia. O encontro não podia estar a correr melhor. A praia era um dos seus lugares de eleição e por escassos segundos voltou novamente ao passado: às tardes que passavam juntos e sozinhos na praia a apanhar banhos-de-sol, a rir e a conversar. De repente, sentiu umas saudades enormes desses tempos e pensou que, afinal de contas, estava ali para tentar recuperá-los, para recuperar o que ambos tinham deixado para trás.
 Lado a lado, com os dedos quase a tocarem-se, percorreram a marginal e de seguida, descalçaram-se e desceram até ao areal. A atmosfera que se fazia sentir no ar era contraditória: por um lado não sabiam o que haviam de dizer um ao outro, como quebrar o silêncio... Lara sentiu que de certa forma pareciam estar em sintonia e havia um sentimento comum entre os dois: ambos queriam o mesmo e gostavam um do outro; mas por outro lado, havia um misto de sentimentos e emoções no interior de cada um que não estavam a conseguir controlar e muito menos gerir. Sentimentos que eram muito mais fortes que eles. Havia a impulsividade a chamar o coração à razão, havia o forte desejo que os consumia por dentro e havia um querer muito maior que a passividade que se fazia sentir entre ambos.
– Quando venho à praia, lembro-me sempre de ti, sabias? – Disse ele, olhando-a profundamente nos olhos e encurtando a distância que os separava.
– A sério? – Lara mostrou-se tímida e bastante corada – Fico tão contente por ouvir isso.
– Na verdade, nunca te esqueci… Os nossos caminhos descruzaram-se depois de terminarmos o secundário: tu foste para a faculdade e eu mudei-me para Londres, consegui ganhar uma bolsa de estudo e fiz lá o curso de Medicina. Terminei recentemente a especialidade em Pediatria.
– Que bom! Não fazia ideia que gostavas de crianças. – Disse ela incrédula.
– Apesar de não ter irmãos, sempre gostei muito de crianças e quando decidi ir para Medicina, decidi logo de antemão seguir a especialidade de Pediatria. – Sorriram um para o outro.
-Muita coisa mudou na minha vida, desde que fui para Londres…
– Foi… lá que conheceste a tua esposa? – Perguntou ela a medo.
– Sim! A Hallie trabalha no hospital onde estagiei e onde trabalhei durante quase dois anos, apaixonamo-nos durante o meu estágio. Namoramos durante três anos e depois decidimos casar e regressar a Portugal.
Lara notou alguma falta de entusiasmo em Tristão, uma melancolia no olhar.
– Não me pareces muito feliz ou estou errada?
– Mais ou menos! Sabes, este nosso reencontro fez-me pensar muito, de certa forma veio por em causa muito daquilo que eu sinto pela Hallie. Tem-me feito questionar se as opções que eu tomei foram a mais corretas, levantou sérias dúvidas sobre aquilo que eu sinto por ela.
– Desculpa! Não queria prejudicar-te, nem ser a causadora dessas dúvidas.
– Não peças desculpa. Tu não tens culpa de nada.
– Tu ama-la?
– Apaixonadamente para dizer a verdade. Pensava eu, ao menos... Já estávamos a fazer planos para aumentar a família; mas depois apareceste tu e tudo parece ter mudado dentro de mim. Já não sei se é isto que quero, já não sei se amo realmente a Hallie. Já não sei nada, estou tão confuso. Não era suposto sentir-me assim, tenho trinta e cinco anos, sou um adulto e estas dúvidas existenciais não fazem sentido. Não quero de maneira nenhuma magoar a Hallie; no entanto, sei e sinto que é realmente de ti que eu gosto, que é a ti que eu amo, desde sempre.
Lara sentiu-se envergonhada.
– Tive muita pena de ter perdido o contacto contigo, de ter deixado de saber notícias tuas. Foste e continuas a ser uma pessoa muito especial para mim, que me marcou muito.
– Também tu. Sabes, ter-me afastado de ti e não me ter decidido a procurar-te depois de terminar o curso é uma das coisas de que mais me arrependo. Talvez tudo tivesse sido diferente.
– Quem sabe…
Tristão pousou a sua mão por cima da dela e os seus olhares fundiram-se num instante, os corações de ambos aceleraram-se, os rostos aproximaram-se lentamente, como o balançar de uma borboleta. Já não era mais possível, resistirem ao que sentiam um pelo outro, os lábios acabaram mesmo por tocar-se, as línguas de ambos misturaram-se e trocaram mais um beijo sôfrego e apaixonado.
Sorriram um para o outro e Tristão empurrou-a levemente em direcção ao areal continuando a beijá-la profundamente nos lábios. Lara começou a desabotoar a camisa que Tristão levava vestida, enquanto ele continuava a beijá-la: agora no pescoço: mordiscando-lhe o lóbulo da orelha e passando de seguida para o peito. Estavam completamente fundidos um no outro... Tristão despiu de seguida a camisa, deixando à vista o corpo moreno e atlético que deixou Lara quase sem fôlego, começou a desapertar as calças dela à medida que ela percorria lentamente o seu tronco, beijando-o docemente e sentindo a humidade afrodisíaca da sua pele. Tristão ajudou-a a despir a túnica, e Lara ficou apenas em roupa interior sentido a excitação do toque dos grãos de areia em contacto com a sua pele.
O prazer estava no auge e a exploração corporal acompanhava-o exponencialmente; mas de repente, Tristão caiu na realidade e afastou-se de Lara.
– O que se passa? Fiz algo que não devia?
– Não! Isto é que não devia ter acontecido…
– Mas porquê? Disseste que me amavas, que eu era a pessoa que mais gostavas.
– E isso é verdade! Mas eu não me posso envolver contigo, as coisas mudaram.
– Não é justo o que me estás a fazer: teres-me dado esperanças, envolvermo-nos e agora dares tudo por terminado.
– Tenta compreender, Lara! Sou casado, não posso magoar a Hallie assim desta maneira, ela não merece. Não é justo. Por muito que te ame, que goste de ti, que deseje ficar ao teu lado para sempre, não posso fazê-lo. Desculpa. Não devia ter feito isto, não devia ter cedido aos impulsos.
– Estás arrependido de tudo?
– Por um lado sim; mas por outro lado não. Não sei o que pensar. O que é que vou dizer à Hallie?
– Nada! Fica só um segredo nosso…
– Lara não posso fazer-lhe isso! Não lhe posso esconder uma coisa destas, já não somos nenhuns adolescentes.
– Então o que pensas fazer?
– Não sei!
Tristão pegou na camisa e começou a vestir-se.
– Vais-te embora assim, sem mais nem menos?
– Desculpa! Perdoa-me. Preciso de estar sozinho para pensar no que fazer.
– Prometo que te ligo, quando tiver uma decisão tomada.
– Está bem! Tristão?
– Sim?
– Por favor, nunca te esqueças de mim…
– Jamais te esquecerei, Lara. Prometo. Porque o que o coração acabou por juntar, o tempo não pode separar.
O tempo foi passando e o rosto de Lara ia envelhecendo pela tristeza e pela falta de notícias de Tristão. O seu coração desistia a cada dia que passava sem um telefonema. Uma mensagem bastava, apenas uma mensagem seria suficiente para lhe confortar o coração, para lhe pintar a alma de verde, para simplesmente ainda poder acreditar que o amor, “o primeiro amor nunca se esquece.”
Num dos seus passeios ao fim de tarde, Lara viajava sobre um misto de pensamentos negativos, mais do que em qualquer outra situação da vida dela. Era a segunda vez que perdia Tristão. Era a segunda vez que ele desistia daquele amor.
- Lara… Sabia que podia encontrar-te aqui.
Ao virar o seu rosto, o olhar de ambos se cruzou e denunciou a paixão ardente que se fazia sair dos corações de ambos. As chamas quentes e fervorosas daquele amor que se iniciara à cerca de vinte anos atrás.
- Tristão…
E perderam-se em largos minutos nos braços um do outro.
- Desculpa esta minha ausência, mas tive de tratar de umas coisas antes que fosse tarde. Vem comigo. Vou contar-te tudo.
O caminho foi longo e custou a ser percorrido. A cada passo que era dado notava-se a ânsia no rosto de Lara. Tristão seguia calmo como sempre, uma característica típica do seu próprio ser. Lara também era uma pessoa calma, mas deixava-se dominar pela ansiedade nos momentos em que o seu querer era mais importante que todos os valores do mundo.
            Dirigiram-se para os portões que davam acesso a casa de Tristão. A rua estava iluminada pela luz da lua e pelo sorriso das estrelas. No momento em que a porta se abriu, Lara ficou admirada com o que viu. No corredor, velas vermelhas e brancas iluminavam a passagem de rosas que tornava o ambiente um tanto ou quanto romântico. A cada passo que davam Tristão revelava-se ser carinhoso e vivia de um romantismo que Lara desconhecia. Apresentou-lhe um belo prato, confeccionado por ele que o denunciava ser também um cozinheiro nato.
            - Desconhecia este teu lado, Tristão.
            - Há tanto de mim que tu não conheces, Lara.
            - Terás uma vida para me mostrares, se assim desejares. Mas antes conta-me desta tua ausência.
            Tristão ficou em silêncio por escassos segundos. A música ambiente, cantada pela voz da incrível Whitney Houston, respondeu por ele: “And I, will always love you”. Tristão sorriu pela ironia do acontecimento e Lara acabou por aperceber-se do sucedido e sorriu também.
            As palavras não lhe saiam da boca o que obrigou Lara a desistir de tentar perceber o porquê de uma ausência tão misteriosa. O jantar terminou com uns crepes de chocolate, que por ironia era a sobremesa favorita de ambos. Foi um jantar para tudo. Os temas de conversa variaram desde a política, ao desporto, desde a música ao teatro, relembrando os momentos do liceu em que ambos interpretaram uma peça de uma das maiores histórias de amor, vivida por “Tristão e Isolda”, e não se voltou a tocar no assunto inicial que tanto tinha incomodado Lara. Aquele momento acabou com um bom copo de vinho junto da lareira que estava acesa. No meio das lembranças, os olhares voltaram a fixar-se, os corações abraçaram-se e Tristão ganhou coragem para beijar Lara.
            - Vais voltar a fugir e a dizer que isto não pode acontecer? – Perguntou Lara, afastando-se dele exigindo-lhe uma resposta. – Se o vais fazer é melhor ficarmos por aqui.
            - Lara, querida… Vou contar-te o motivo da minha ausência. Há uns anos atrás vivi uma das maiores histórias de amor que podia ter vivido. Sabes que partilho daquela opinião que o primeiro amor nunca se esquece. Quando saí daqui não soube mais desse amor e senti-me capaz de seguir em frente, casando, refazendo a minha vida, mesmo que esse amor nunca deixasse de ser parte integrante do meu ser. Há dias reencontrei-te. Foi aí que percebi que todas aquelas noites de sonhos contigo, que me obrigaram de certo modo a vir cá, não foram em vão. Tudo acontece quando tem de acontecer e tu és o melhor acontecimento da minha vida.
            Lara estava de lágrimas no rosto deixando-se reconquistar pelas palavras dóceis e singelas de Tristão, acabando por retribuir-lhe o beijo que afastara há momentos atrás.
            - Ainda não terminei… Aquele momento na praia mexeu comigo. Mas não é de minha índole ser infiel aos meus compromissos e tinha de partir para me conseguir reencontrar. Estava mesmo desorientado e, a cada segundo que estava contigo, a vontade de permanecer ao teu lado era cada vez maior que estava a deixar-me completamente louco.
            - Shiuuu. Não digas mais nada.
            Lara beijou Tristão num beijo que o deixou sem fôlego, mas Tristão queria poder dizer-lhe o que lhe ia na alma acabando por afastá-la de novo e concluiu:
            - Tudo isto para te dizer que quero ficar contigo e que tu és e sempre serás o meu primeiro grande amor.
            E entregaram-se de corpo e alma numa noite longa de amor, de entrega e de reconciliação.
Na manhã seguinte Lara acordou com o cheiro de bacon frito. Não tinha noção de quão esfomeada estava até sentir o cheiro que vinha da cozinha. Embora tivesse tido um excelente jantar, sentia-se desprovida de energia já que tinha perdido a conta das vezes em que atingiu o clímax nos braços de Tristão. Tentou a todo custo levantar-se, mas faltaram-lhe as forças. Deixou-se cair novamente na cama e suavemente chamou por Tristão. Provavelmente não a ouviu uma vez que ele continuava a assobiar alegremente na cozinha. Deixou-se estar. Enrolou-se nos lençóis e cheirou-os. Sorriu que nem uma menina apaixonada e aninhou-se ainda mais fundo dentro da cama. Deitou-se com a barriga para baixo e abriu os braços... Queria abraçar a imensidão da cama de Tristão e encher-se do seu cheiro. As memórias da noite anterior invadiram-na e sentiu o desejo a regressar. Contorceu-se com as dores que sentia cada vez que a sua vagina latejava.
Já se tinha esquecido de como era fazer amor. Desde aquela primeira vez na praia com Tristão, há precisamente dezanove anos, ela nunca mais se entregara a ninguém. Não que tivesse feito alguma promessa mas nunca tinha encontrado alguém que a fizesse sentir desejo. Nunca se apaixonou por ninguém e incrivelmente nunca mais tinha beijado ninguém. Agora que pensava nisso é que se apercebia que só tinha pertencido ao Tristão, desde sempre, fora só dele, sempre. Como é possível? Porque é que nunca se apaixonou por ninguém antes? Tantos colegas de escola, da universidade e até do trabalho tentaram aproximar-se dela ao longo dos anos, mas nenhum lhe despertava interesse. Ou eram muito gordos, ou eram muito magros, ou muito altos, ou muito baixos, ou falavam pouco, ou falavam muito... Apercebeu-se agora que o único denominador comum entre eles é que nenhum deles era o Tristão.
Ao fundo continuava a ouvi-lo assobiar. Começava a imaginar o que será que ele estava a magicar, que pequeno-almoço seria esse que nunca mais acabava de ser preparado. Decidiu juntar as últimas forças que lhe restavam para se arrastar até à casa de banho. Um duche rápido ia fazer-lhe bem e aliviar-lhe a tensão que sentia entre as pernas. Uma dor que conseguia ser agradável e desagradável ao mesmo tempo...
            Sorriu timidamente a lembrar-se o motivo da dor: Tristão... Lembrou-se da delicadeza com que fez amor com ela depois de ela ter-lhe dito que já fazia algum tempo desde que tinha estado com alguém. Não lhe quis dizer que nunca tinha estado com mais ninguém sem ser ele. Na altura não pareceu apropriado, sentiu até medo de não ser capaz de satisfazê-lo. Mas parece que para fazer amor a única arte necessária é amar. Na primeira vez ele guiou-a do mesmo jeito que há 19 anos, mas depois... Depois parece que foi possuída pela deusa da luxúria porque tomou o controlo. Quis retribuir o prazer que ele lhe tinha proporcionado e parece que o conseguiu fazer. Cada vez que o fazia gemer de prazer memorizava o que o tinha feito chegar a esse ponto e repetia com mais destreza. Clareou as ideias, tomou um duche rápido e vestiu a camisa que ele tinha usado no dia anterior. Foi ter com ele à cozinha deixando-se guiar pelo cheiro.
- Olha quem decidiu juntar-se à festa!
- Estive tentada a esperar que fosses ter comigo. Mal me conseguia levantar da cama...
- Pudera... Com a fome com que me atacaste ontem ficaste sem energias.
Sorriu para ela e largou o que estava a fazer para abraçá-la. Beijou-a de leve na boca e apertou-a contra si até fazê-la gemer.
- Não pares...
- Calma princesa. Vamos comer primeiro. Estou derrotado.
- Tu derrotado? O valente Tristão derrotado. Quero ver se me dizes a verdade...
Sorriu para ele, deixou-se cair de joelhos e pegou-lhe o sexo pelas mãos. Baixou-lhe os boxers e abocanhou-o sem aviso. O gemido que ele fez indicou-lhe que estava no bom caminho. Continuou os movimentos rítmicos guiando-se pelos gemidos de Tristão. Ele perdeu o controlo e ela sentiu um líquido suave e morno a descer-lhe pela garganta. Aceitou e saboreou. Lambeu os lábios enquanto se erguia.
- Desculpa. Não me consegui controlar...
- És um mentiroso!
- Eu? Porquê?
- Não estavas derrotado!
E riram-se com a cumplicidade de um casal que já se conhece há mil vidas. Saborearam o pequeno-almoço “inglês” que ele preparou e enfiaram-se na cama o dia todo a fazer amor. “Que a vida fosse sempre assim, pensou ela”. Mas bem no íntimo sabia que eles ainda tinham muito para conversar. Como fazer daqui para frente? E a Hallie? Será que ele tinha resolvido tudo com ela? Havia muito para falar e para se decidir. Não podiam passar a vida toda na marmeladaa, mas por agora bastava. “Amanhã é outro dia” pensou enquanto se enfiava dentro dos lençóis para iniciar mais um ataque amoroso...
            A manhã chegou calma e serena, os raios de sol entraram sem pedir licença pela grande janela do escritório, iluminando o rosto de Lara. Completamente atordoada e confusa, acordou na sua poltrona colorida, com os álbuns de fotografias ao seu lado, e a foto do seu eterno amor junto do seu peito.
            - Já cheguei. – Grita ele do hall de entrada.
            Assustada, levanta-se de imediato e corre em direcção a ele, abraçando-o de seguida.
            - Que se passa Lara? – Pergunta ele admirado.
            - Nada... Nada... – Suspira a Lara, ainda nervosa. – Apenas um sonho, foi apenas isso, Tristão!
            - Adormeceste outra vez na poltrona? – Pergunta ele com ar brincalhão.
            - Sim... – Respondeu ela pensativa. – Já alguma vez imaginaste como teria sido se tivesses ido para Londres estudar?
            - Como assim? – Perguntou Tristão confuso.
            - Como teriam sido diferentes as nossas vidas? Se calhar agora não estaríamos juntos, sei lá... – Disse ela, tentando explicar o susto que tinha apanhado enquanto adormeceu na poltrona.
            - Hum... – Suspirou. – Talvez, mas ficarmos juntos foi a minha primeira decisão, e não me arrependo de a ter tomado, Lara.
            - Eu sei... – Respondeu ela sorridente.
            - Sabes que te amo, por isso, nada poderia ser diferente! – Disse ele dando-lhe um beijo suave nos lábios. – Amo-te desde a primeira vez que os meus olhos se cruzaram com os teus...
            - Tristão, meu menino rebelde, que fazias tu na biblioteca quando nos conhecemos? – Pergunta ela em forma de brincadeira, enquanto colocava a mesa.
            - Então, estava à procura da mulher da minha vida! – Respondeu ele de imediato com uma gargalhada no final.
             Assim, após um pequeno-almoço bem reforçado, e de algumas brincadeiras, Lara volta ao seu escritório onde constatara que afinal o amor não cabe dentro de gavetas, e muito menos em devaneios. Amor, é aquilo que se vive todos os dias, é aquilo que se constrói, e isso cabe apenas dentro do coração. E, esse palpitava desde os 16 anos, desde o momento em que na sua inocência tirou o livro da prateleira e nunca mais esqueceu o rosto que lhe apareceu naquele espaço vazio: Tristão, o menino rebelde, o homem dedicado.
Se as coisas poderiam ter sido diferentes? Claro, mas amar veio em primeiro lugar.
Pegou no marido pelas mãos e arrastou-o para a poltrona. Afinal, não conseguia pensar em melhor lugar para começar a tentativa de aumentar a família e preencher aquele pedaço que lhe estava a faltar…