terça-feira, 1 de maio de 2018

Planos...

A vida tem destas coisas, sabes?
Fazemos planos, alguns desde pequeninos, e não nos preparamos para o caso dos planos não darem certo. Afinal, um plano bem traçado não tem como falhar...
Deborah, senteu-se à beira-mar, a pensar na vida. Esta vida que lhe havia pregado uma partida, e daquelas!
A idade já se adivinhava pelas curvas à volta dos olhos e as ondas que lhe desenhavam as mãos. A vida tinha sido longa, longa demais, pensou. Desde cedo, planeara a vida que tinha levado. O curso que iria tirar, a escola onde iria estudar, o número de filhos que iria ter, até o marido havia sido parte dos seus planos. Até então, tudo tinha corrido conforme o plano... Até então...
Deborah, não se tinha preparado para esta chapada da vida. Nunca planeou uma vida em que terminasse sozinha...
Os filhos, gémeos e maravilhosos, decidiram tentar a sorte do outro lado do mundo. As saudades matavam-se com telefonemas e chamadas vias skype, essas modernices. O coração, apertado, habituara-se a viver com o peso da distância, mas, Deborah, podia jurar que desde então batia mais devagar.
Com a saída dos filhos, a rotina alterou-se. Os pequenos-almoços, à mesa, deixaram de existir, assim como os almoços e os jantares. As saídas, em família, perderam a razão de ser e, Deborah, viu-se de repente sozinha.
Mateus, vivia no seu mundo. No início, os dialogos eram sobre os miúdos, se tinham telefonado, se estava tudo bem... Mas, como tudo, o ser humano habitua-se e acomoda-se. A ausência dos miúdos deixou de ser uma novidade e passou a ser a rotina. Já nada havia para falar.
Deborah, não planeara terminar sozinha. Esta manhã, acordou e reparou no papel em cima da mesinha de cabeceira. Achou estranho, dobrado em dois e meio amachucado. Não se lembrava de o ter posto ali. Abriu o papel e voltou a fechá-lo, como se podesse apagar as palavras que tinha acabado de ler. Mateus, despediu-se com um até sempre. Tantos anos passados e despediu-se com um até sempre! Nem uma explicação, apenas até sempre.
Na verdade, Deborah não precisava de mais palavras. Sempre sentiu que Mateus tinha sido a sua escolha, mas que ela não tinha sido a escolha dele. Habitua-se a tê-la por perto. Deborah, sempre lhe facilitara a vida. Não tinha que se preocupar com nada, os planos e decisões eram dela e tudo se resolvia. Se era feliz? Duvidava. Mateus foi feliz quando nasceram os filhos e deram-lhe razão para viver. Mateus, nunca foi feliz com ela. Deborah sabia-o, sentia-o, mas nunca quis admiti-lo em voz alta. Sempre esperou que ele o fizesse...
As ondas,  cantavam, alheias à sua solidão. Faziam-lhe companhia. Passou a vida a planear e esqueceu-se de a viver. Deborah, afinal, só queria ser feliz. Os planos que fazia, pensou ela, eram o caminho para a felicidade. E ali estava ela com planos cumpridos e com apenas um por cumprir... O mais importante de todos: ser feliz!



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